terça-feira, 29 de novembro de 2011



Então eu disse a mim que o mundo no qual eu acreditava haveria de existir em algum lugar. Nem que fosse apenas dentro de mim.


Rita Apoema

sábado, 26 de novembro de 2011

É HOJE ......!!!!!!


BLACKBIRD




Blackbird singing in the dead of night,
Take these broken wings and learn to fly.
All your life,
You were only waiting for the moment to arise.

Blackbird singing in the dead of night,
Take these sunken eyes and learn to see.
All your life,
You were only waiting for the moment to be free.

Black bird fly, black bird fly
Into the light of the dark black night.

Black bird fly, black bird fly
Into the light of the dark black night.

Blackbird singing in the dead of night
Take these broken wings and learn to fly.
All your life
You were only waiting for this moment to arise
You were only waiting for this moment to arise
You were only waiting for this moment to arise

...Adoro demais!!!!

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Bora mudar de assunto????



Meu mundo se resume a palavras que perfuram, a canções que me comovem, a paixões que já nem lembro, a perguntas sem respostas, a respostas que não me servem, à constante perseguição do que ainda não sei. Meu mundo se resume ao encontro do que é terra e fogo dentro de mim, onde não me enxergo, mas me sinto.





Martha Medeiros

UEPB 2012 - CONTOS NEGREIROS



CONTOS NEGREIROS – Marcelino Freire
“O caba mal começa,acabou-se.”
Gênero: Narrativo
Estilo: Contos - Contemporaneidade

AUTOR: Marcelino Juvêncio Freire (Sertânia PE 1967). Contista. Com a família muda-se, em 1969, para Paulo Afonso, Bahia, onde permanece por seis anos, até radicar-se no Recife. Nessa época, por influência de uma professora, começa a fazer teatro. Em 1981, escreve os primeiros textos do gênero. Nos oito anos seguintes trabalha como bancário e inicia o curso de letras na Universidade Católica de Pernambuco, mas não o conclui. Após abandonar o emprego, em 1989,  freqüenta a oficina literária do escritor Raimundo Carrero (1947). Dois anos depois, premiado pelo governo do Estado de Pernambuco, decide mudar-se para São Paulo, e publica, de forma independente, seus dois primeiros livros: AcRústico, 1995 e EraOdito, 1998. Em 2000, o crítico João Alexandre Barbosa (1937 - 2006) indica-o ao Ateliê Editorial, que publica o livro de contos Angu de Sangue. Marcelino Freire é também conhecido por sua atuação como agitador cultural. Livros publicados: AcRústico; EraOdito; Angu de Sangue; BaléRalé; Contos Negreiros; Rasif - Mar que Arrebenta; Amar é crime.

OBRA: Na obra Contos Negreiros a paisagem urbana é o cenário principal de seus cantos (contos). Algumas paisagens de importantes centros urbanos, como Recife e São Paulo, como as zonas de prostituição, morros, favelas e pontos turísticos, tornam-se palcos para a exposição de uma realidade complexa e miserável, vivida por prostitutas, “bichas”, negros, índios, além de abrigar traficantes de órgãos e de drogas, e turistas sexuais. Marcelino Freire apresenta 16 narrativas (contos e crônicas) que procuram aproximar-se de uma linguagem coloquial, memorial e, às vezes, musical, baseada nas influências deixadas pela oralidade das ladainhas e canções nordestinas. Ele escreve a partir do ponto de vista de brasileiros miseráveis ou mortos-vivos, que, como “zumbis”, vendem de tudo para sobreviver: drogas, o corpo, o rim. Sua criação literária passa pela valorização da memória, oriunda das heranças culturais – a cultura popular nordestina – e a percepção de um tempo presente. As experiências ocorridas no dia-a-dia das metrópoles brasileiras apresentam testemunhos de sujeitos que estão à margem da sociedade contemporânea. Sujeitos sem voz, sem espaços para o testemunho, vistos quase como objetos ou tratados como objetos pela mídia e por toda sociedade.
Nos Contos Negreiros, são narrados acontecimentos comuns à vida de sujeitos comuns. Fatos do dia-a-dia narrados por seus protagonistas, aqueles que sempre têm suas vozes emudecidas pelos próprios acontecimentos dos quais são autores. Para tanto, Freire utiliza-se, como já citado, da oralidade, da memória, ora do relato objetivo, ora do relato subjetivo, para desenvolver testemunhos que não visam formar uma identidade, mas apresentar as condições extremas vividas em plena contemporaneidade.

TEMÁTICA:

·         Racismo
·         Turismo sexual
·         Tráfico de órgãos
·         Homossexualismo
·         Pedofilia
·         Violência urbana
·         Miséria

CARACTERÍSTICA:

·         Linguagem coloquial
·         Pontuação imaginária
·         Ironia
·         Secura
·         Rimas fáceis
·         Jogos de palavras
·         Trocadilhos

RESUMO:


1 – SOLAR DOS PRÍNCIPES: Narra a história de cinco negros que descem o morro para fazer um documentário sobre a classe média. Apossados de instrumentos praticamente inacessíveis a eles – equipamento de produção cinematográfica –, tentam produzir um filme sobre o cotidiano da classe média e são barrados pelo porteiro. Também negro, o porteiro tem um posicionamento "fora do lugar": trabalhando para pessoas abastadas, ele toma partido, nessa cena inusitada, de seus patrões. É como um feitor ou capitão do mato, no período escravocrata. Absorve uma postura de embate – tipicamente a da classe média atual, tão aterrorizada pela violência urbana – e rechaça seus pares.

2 – CORAÇÃO: Aqui a voz que escutamos é a de um travesti prostituído, que masturba homens no metrô. Ainda rara, e bastante discutível, a presença gay na literatura brasileira pauta-se ou pelo estereótipo acrítico ou pelo cuidado insistente na construção, em resposta aos movimentos organizados. Isso não acontece em Contos negreiros. O narrador de "Coração" não levanta bandeiras, não pede respeito, não reclama de sua miséria. Desconcerto: o narrador personagem tem densidade. Não é apenas uma presença gay, mas uma voz ativa, que é vítima, mas que também faz escolhas, pensa a sua realidade, vive, sobrevive, flutua, sofre e morre de prazer.

3 – TOTONHA: Nesse canto o autor desmonta o leitor erudito. Mais uma vez, as nossas restritas concepções e verdades absolutas e universais sofrem abalo. Totonha, a personagem, é uma velha senhora, que, com seu discurso trocado, ao contrário, nos desperta: ela não quer aprender a ler. A sua negra realidade é tão natural, apartada do mundo cultural – restrito aos alguns que o pensam e o consomem –, que não lhe servem a leitura e a escrita. "Capim sabe ler? Escrever? Já viu cachorro letrado, cintenífico? Já viu juízo de valor? Em quê? Não quero aprender, dispenso" (p. 79).

4 – NAÇÃO ZUMBI: Apresenta a história de um personagem sem nome, que estava prestes a fechar um negócio: a venda do próprio rim para traficantes de órgãos. O personagem narra com indignação e frustração a interrupção da compra, a impossibilidade do fechamento do negócio. A polícia descobre a trama e o desfecho da história é a afirmação: “sei que vão encher meu rim de soco”. Ele acreditava que a venda do seu órgão era uma forma de mudar de vida, de “livrar sua barriga da miséria”. O texto mostra a pobreza, o comércio ilegal, o corpo como moeda, como pode ser lido na seguinte passagem do conto:
“E o rim não é meu? Logo eu que ia ganhar dez mil, ia ganhar. Tinha até marcado uma feijoada pra quando eu voltar, uma feijoada. E roda de samba pra gente rodar (..) E o rim não é meu, sarava?Quem me deu não foi Aquele-lá-de-cima, Meu Deus,

Jesus e Oxalá? (...) O esquema é bacana. Os caras chegam aqui levam a gente para Luanda ou Pretória. (...) Puta oportunidade só uma vez na vida (...)”
.

5 – LINHA DE TIRO: A conversa é um assalto em que a mulher acha que o assaltante lhe quer vender chocolates. Serve para mostrar a infinidade de mal-entendidos que é esta nação, pois nem o assaltante se consegue fazer entender: diante da ameaça não há pânico, apenas estranhamento, como se cada um falasse uma língua diversa e nem mesmo o gestual tivesse um significado: "É um assalto! Não, obrigado, hoje não vou querer chocolates". É um texto rico para pensarmos a dificuldade histórica que o Brasil tem de elaborar um discurso constitutivo, em que todos falem um idioma comum em prol da construção de algo duradouro e consistente.

6 – YAMANI: Trata de um assunto quase ignorado na nossa prosa: o turismo sexual e a exploração de crianças prostituídas. Um turista, ao viajar pela Amazônia, deixa claro sua aversão ao Brasil e suas florestas, mas, ao mesmo tempo, narra seu desejo por uma criança indígena (prostituta), como é possível observar neste trecho: “E os índios? O que tem os índios? O que você achou dos índios do Brasil? Fodam-se os índios do Brasil. Toquem fogo na floresta. Vão à merda (...) Só lembro de Yamami. Sempre gostei de crianças. Aqui é proibido. Yamami, meu tesouro perdido (...) Indiazinha típica dos seus trezes anos. As unhas pintadas, descalçadas. Tintas extintas na cara.  Coisinha de árvore (...)”.“Lá posso colocar Yamami no colo e ninguém me enche o saco. E ninguém fica me policiando. Governo me recriminando”.
7 - TRABALHADORES DO BRASIL: o autor refere-se aos homens e mulheres que se esforçam todos os dias em subempregos para sobreviver. As personagens desse canto recebem os nomes de alguns Orixás e de referências africanas e afro-brasileiras: Olorô-quê, Zumbi, Tição, Obatalá, Olorum, Ossonhe, Rainha Quelé, Sambongo. O narrador interpela diretamente o leitor com a pergunta ao final de cada parágrafo: “(...) tá me ouvindo bem?”. Sem nenhuma pontuação, o texto explode em uma crítica indignada aos “pré-conceitos” relacionados aos negros, mais direta no primeiro e nos últimos parágrafos: “(...) ninguém vive aqui com a bunda preta pra cima tá me ouvindo bem?” e “Hein seu branco safado? Ninguém aqui é escravo de ninguém”.

8 – ESQUECE: define o que é violência aos olhos de um excluído social, que representa tantos outros. Também marcado pela falta de pontuação, o conto é um “desafogo” diante das notícias freqüentes sobre o tema, veiculadas intensamente nos jornais e na televisão, através da lente das classes média e alta. Nesse conto, a vítima está do outro lado, quase sempre esquecida: “Violência é a gente receber tapa na cara e na bunda quando socam a gente naquela cela imunda cheia de gente e mais gente e mais gente e mais gente pensando como seria bom ter um carrão do ano e aquele relógio rolex mas isso fica para depois uma outra hora. Esquece”.

9 – ALEMÃES VÃO À GUERRA: A visão estrangeira da personagem alemã representa o senso comum: “Nosso dinheiro salvarria, porr exemplo, as negrrinhas do Haiti”. A personagem olha para o Haiti e para Salvador como lugares quentes e cheios de amor. Porém, é possível afirmar que a noção de “estrangeiro” ultrapassa a questão da fronteira e instala-se nas diferenças entre as classes sociais, o que aponta alguns olhares estrangeiros dentro de um país tão desigual como o Brasil.

10 – VANICLÉLIA:  personagem do conto homônimo, apanha do homem com quem vive e a quem chama de belzebu. Seu parâmetro de comparação são os “gringos”, que escolhem as mulheres no Calçadão de Boa Viagem: “Casar tinha futuro. Mesmo sabendo de umas que quebravam a cara. O gringo era covarde, levava pra ser escrava. Mas valia. Menos pior que essa vida de bosta arrependida”.

11 - CURSO SUPERIOR: um jovem expõe à mãe seu medo de entrar na faculdade e não conseguir concluir o curso, por diversos motivos: porque possui deficiência nas disciplinas, tem medo do preconceito, pode engravidar a loira gostosa da turma e não conseguir nenhum tipo de emprego, porque o policial vai olhá-lo de cara feia e ele vai fazer uma besteira. Seu fim seria a prisão, sem o privilégio da cela especial. Por meio desse discurso profético, o círculo vicioso do preconceito racial e social é tratado com ironia pelo autor.

12 - CADERNO DE TURISMO: foge um pouco da temática do livro, mas não deixa de ser polêmico: “Zé, olhe bem defronte: que horizonte você vê, que horizonte? Pensa que é fácil colocar nossos pés em Orlando?” (p.69).

13 e 14 - NOSSA RAINHA  e MEU NEGRO DE ESTIMAÇÃO: tratam, essencialmente, do embranquecimento do negro. O conflito entre o desejo da menina do morro de ser a Xuxa e a situação de pobreza em que se encontra faz com que sua mãe reflita sobre as diferenças sociais entre sua filha e a Rainha dos Baixinhos. A mídia, novamente, constrói um modelo que reforça o preconceito racial e social. A menina pode vir a ser a Rainha da Bateria, sonho mais próximo à sua realidade. “Meu negro de estimação” o narrador refere-se a seu negro de estimação como um homem melhor do que era: “Meu homem agora é um homem melhor. Mora nos jardins, veste calça. Causa inveja por onde passa. Meu homem não tem para ninguém, só para mim. Meu homem se chama Benjamin”.


UEPB 2012 - ANTOLOGIA POÉTICA CDA



ANTOLOGIA POÉTICA – Carlos Drummond de Andrade

“... obra que, de certa maneira, reflete um “tempo”, não só individual mas coletivo no país e no
mundo.”
Gênero: Lírico
Estilo: Poemas diversos - Modernismo

AUTOR: Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira, Minas Gerais, em 1902, descendente de uma antiga família de mineradores e fazendeiros. Em 1916, deixou sua cidade natal para estudar na capital do Estado. Formado em Farmácia, não chegou a exercer a profissão, dedicando-se ao jornalismo. Depois de fazer contato com poetas modernistas de São Paulo, fundou A Revista em 1925 – primeiro jornal modernista mineiro. Trabalhou na grande imprensa de Belo Horizonte, nos jornais Diário de Minas e Minas Gerais. Em 1934, mudou-se para o Rio de Janeiro, dedicando-se ao trabalho como funcionário público (chegou a ser chefe de gabinete do ministro da Educação Gustavo Capanema), ao jornalismo e à atividade literária. Exerceu funções burocráticas no serviço público até 1962. Durante todos esses anos, manteve intensa atividade jornalística, publicando crônicas em diversos jornais do país. Dedicou-se também à tradução de grandes obras da literatura mundial. Morreu no Rio de Janeiro, em 17 de agosto de 1987.  Publicou seu primeiro livro, Alguma Poesia, com 28 anos e, aos 60 anos, o poeta contava com dez livros de poesia: Alguma Poesia (1930), Brejo das Almas (1934), Sentimento do Mundo (1940), José (1942), A Rosa do Povo (1945), Novos Poemas (1948), Claro Enigma (1951), Fazendeiro do Ar (1954), A Vida Passada a Limpo (1959) e Lição de Coisas (1962). Esses livros foram coligidos, em 1969, no volume Reunião. Até 1980, Drummond publicou mais nove livros de poesia, entre os quais As Impurezas do Branco (1973) e A Paixão Medida (1980). Postumamente, foram publicados seus poemas eróticos, sob o título de O Amor Natural (1992). Drummond ainda publicou um livro de contos (Contos de Aprendiz, 1951) e várias coleções de crônicas. O escritor tornou-se bastante popular com suas crônicas, apreciadas principalmente pelo humor e pela sensível observação do cotidiano.

ENQUADRAMENTO ESTILÍSTICO: CDA é o poeta introdutor da segunda fase do Modernismo na poesia brasileira com a obra Alguma Poesia. O segunda momento recua nas proposta inovadoras e demolidoras da Primeira Fase, apresentando-se com mais moderação respeitando valores abandonados pela primeira fase, sobretudo no aproveitamento da tradição. A poesia apresenta novos motivadores. O ideário estético é substituído por um ideário ideológico, havendo uma poesia de denúncia social, de crítica do sistema sócio-político-econômico. O desejo de denunciar a realidade social e espiritual do país é marcante. A temática é ampliada,os temas são mais universalizantes. Há um equilíbrio no emprego da linguagem, sobretudo empregando-se termos prosaicos, cotidianos.

CARACTERÍSTICAS DA AOBRA DE CDA: Poeta livre de preconceitos literários anteriores, fala de cenas do cotidiano, de lembranças, de paisagens, fotografando a realidade, retratando um mundo distante, pequeno, simples, mas cheio de elementos pitorescos e sentimentais, assim sintetizam-se as principais características da poesia do poeta: desajustamento do indivíduo; monotonia da vida; nostalgia do passado; obstáculos da vida; preocupação sócio-política; angústia diante da vida; a própria poesia e falta de perspectiva do homem.  

OBRA: Organizada pelo próprio Carlos Drummond de Andrade e publicada em 1962, a Antologia Poética reúne textos que originalmente saíram em diversos livros sem obedecer a ordem cronológica de publicação dos mesmos. Livremente, o autor reuniu seus textos, sem levar em conta também critérios de qualidade, nem fases de sua produção poética. São 134 poemas que embora, CDA tenha organizado sua antologia fundada em critério subjetivo, pode-se perceber as três fases da obra do autor: a humorística, a social e a metafísica.
 A obra foi dividida pelo autor em nove partes, cada uma correspondente a um universo temático específico. São as seguintes:
1 – UM EU TODO RETORCIDO
2 – UMA PROVÍNCIA: ESTA
3 – A FAMÍLIA QUE ME DEI
4 – CANTAR DE AMIGOS
5 – NA PRAÇA DE CONVITES
6 – AMAR-AMARO
7 – POESIA CONTEMPLADA
8 – UMA, DUAS ARGOLINHAS
9 – TENTATIVA DE EXPLORAÇÃO E DE INTERPRETAÇÃO DO ESTAR-NO-MUNDO.
A seleção que Drummond empreendeu revela alto grau de consciência do escritor sobre seu fazer poético. Os temas que escolheu são basicamente os mesmos que a crítica, no futuro, sintetizaria como os fundamentais em sua vasta obra.

1) UM EU TODO RETORCIDO – INDIVÍDUO: Na primeira parte do livro estão poemas que tratam da questão do indivíduo, o eterno conflito entre o eu e o social. O eu-lírico fragmentado se apresenta como um deslocado no mundo, na figura do gauche (palavra francesa que significa, literalmente, esquerdo). A imagem retoma a tradição francesa do poeta inadaptado, que tem como referência central Charles Baudelaire. Isso ocorre, por exemplo, no próprio “Poema de Sete Faces”:

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

2) UMA PROVÍNCIA: nessa seção, há poemas sobre a terra natal do autor. Permeados de atmosfera nostálgica, questionam o espaço natal, colocando sempre em evidência que o espaço é também uma criação subjetiva.  Trata-se, portanto, de um prolongamento da questão do eu em relação ao mundo. Em “Confidência do Itabirano” diz:
 
Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação

3) A FAMÍLIA QUE ME DEI: Nesta terceira seção, CDA tematiza a família. Através do fio da memória, o eu-lírico puxa lembranças e recordações nostálgicas de um tempo perdido e recuperado apenas através da reminiscências da memória. Evoca inicialmente a família, em: “Retrato de Família”:

Este retrato de família
está um tanto empoeirado.
Já não se vê no rosto do pai
quanto dinheiro ele ganhou.
(...)
Esses estranhos assentados,
meus parentes? Não acredito.
São visitas se divertindo
numa sala que se abre pouco
(...)
Já não distingo os que se foram
dos que restaram. Percebo apenas
a estranha idéia de família

viajando através da carne.

4) CANTAR DE AMIGOS – REAIS OU INTELECTUAIS: Esse bloco de poemas trata da temática da amizade, mas de uma amizade estabelecida também no plano poético, como se os amigos fossem ligados ao eu-lírico, esse “Carlos” mitológico, que não deve ser confundido com o próprio poeta e que saúda Manuel Bandeira, nos belos  versos de “Ode no Cinqüentenário do Poeta Brasileiro”:
Esse incessante morrer
que nos teus versos encontro
é tua vida, poeta,
e por ele te comunicas
com o mundo em que te esvais.
(...)
Não é o canto da andorinha, debruçada nos telhados da Lapa,
anunciando que a tua vida passou à toa, à toa.
Não é o médico mandando exclusivamente tocar um tango
argentino,
diante da escavação no pulmão esquerdo e do pulmão direito
infiltrado.
Não são os carvoeirinhos raquíticos voltando encarapitados nos
burros velhos.
Não são os mortos do recife dormindo profundamente na noite.
(...)
Que o poeta nos encaminhe e nos proteja
e que o seu canto confidencial ressoe para consolo de muitos e
esperança de todos,
os delicados e os oprimidos, acima das profissões e dos vãos
disfarces do homem.
Que o poeta Manuel Bandeira escute este apelo de um homem
humilde.

5) NA PRAÇA DE CONVITES:Nessa seção, que o poeta chamou de “choque social”, aparece a fase engajada e participativa de CDA. São poemas retirados de diversos livros , mas que têm uma unidade de tema e de preocupação: colocar a poesia a serviço da denúncia social e da transformação da sociedade.Abrindo esta seção aparece o poema “Sentimento do Mundo”, no qual o poeta reflete sobre o mundo que o circunda e no qual vive, rejeitando a fuga, e o escapismo.

Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio de escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.
(...)
Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.

6) AMAR-AMARO: Aqui o poeta reuniu o que ele chamou de “Conhecimento amoroso”, ou seja, o sentimento amoroso. O título desta seção traz, não sem alguma intenção, as conotações que envolvem o amor: algo prazeiroso, mas também amargo. Amar é experimentar um sabor doce, mas também amarguras e sofrimentos. O poema “ O Amor bate na Aorta”

Cantiga de amor sem eira
nem beira,
vira o mundo de cabeça
para baixo,
suspende a saia das mulheres,
tira os óculos dos homens,
o amor, seja como for,
é o amor.
(...)
O amor bate na porta
o amor bate na aorta,
fui abrir e me constipei.
Cardíaco e melancólico,
o amor ronca na horta
entre pés de laranjeira
entre uvas meio verdes
e desejos já maduros.
(...)
 Amor é bicho instruído.
Olha: o amor pulou o muro
o amor subiu na árvore
em tempo de se estrepar.
Pronto, o amor se estrepou.

7) POESIA CONTEMPLADA: Poemas de cunho metalinguístico, ou seja, em que o poeta constrói uma reflexão sobre o próprio fazer poético. O senso estético do autor alcança grande dimensão de consciência, e a tensão entre o eu e o mundo se atenua, já que o eu-lírico suspende a existência de ambos para situar-se no território da linguagem (“penetra surdamente no reino das palavras”). O poeta parece compreender que tudo o que está no poema só existe como linguagem. Em “Procura da Poesia”, diz:

Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
8) UMA, DUAS ARGOLINHAS: CDA exercita seu veio lúdico, fazendo versos descompromissados, feitos, aparentemente, sem outra razão que o próprio prazer de fazer. O termo lúdico, vem de ludus, latim, significando jogo, brincadeira. O poeta brinca com as palavras, construindo jogos verbais aparentemente inocentes, mas nem por isso sem significação semântica, ideológica e sócio-política. O humor, a construção do poema-piada e a ironia são recursos típicos desta seção. Veja-se “Política Literária”:

O poeta municipal
discute com o poeta estadual
qual deles é capaz de bater o poeta federal.
Enquanto isso o poeta federal
tira ouro do nariz.

9) TENTATIVA DE EXPLORAÇÃO E DE INTERPRETAÇÃO DO ESTAR-NO-MUNDO: De caráter eminentemente existencialista, o mundo aparece como uma “máquina” sem sentido prático a priori. O eu busca uma compreensão impossível, que está para além das coisas. O ideal de uma arte pura tropeça nos impedimentos do mundo, na simbologia dos objetos: a “pedra no meio do caminho”, o “resíduo”. Após a destruição do mundo, busca-se o que resta, essas marcas que permanecem, que perduram na existência e resistem, de maneira precária, à ação do tempo. Esta atitude de descrença leva-o ao pessimismo, à angústia existencial, ao vazio e a dor. Seus poemas, então, tentam escavar um real estilhaçado, através de indagações, de questionamentos.  O poema que abre a seção é “No meio do caminho”

No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
Tinha uma pedra
No meio do caminho tinha uma pedra

Estrutura formal da composição de Carlos Drummond de Andrade é a seguinte:
1. Versilibrismo: o uso indiscriminado do verso livre.
2. Prosaísmo: adoção na poesia de processos adequados à prosa como o discurso direto, a ausência de rimas, a conversa com o leitor.
3. Linguagem dinâmica e irônica: versos pequenos e concisos no significado, semelhante ao poema pílula de Oswald de Andrade.
4. Cenas do cotidiano: a infância, a metrópole, Itabira e a família.
5. Recriação metonímica da realidade sentida: Drummond apreende filosoficamente o mundo a partir de assuntos banais.

UEPB 2012 - OS RATOS



OS RATOS – Dyonélio Machado


Gênero: Romance
Estilo: Modernismo 2 fase – Geração de 30

AUTOR: Entre os ficcionistas brasileiros da primeira metade do século XX, Dyonélio Machado sobressai pela agudeza concreta de seu intimismo, voltado menos para conflitos religiosos ou morais que para as dores miúdas e destruidoras do cotidiano.
Dyonélio Tubino Machado nasceu em Quaraí, RS em 21 de agosto de 1895. Estreou na literatura com os contos de “Um pobre homem” (1927) e formou-se em 1929 pela Faculdade de Medicina de Porto Alegre, especializando-se em psiquiatria. Foi redator e diretor interino do jornal Correio do Povo, da capital gaúcha. Elegeu-se deputado estadual, mas com o Estado Novo perdeu o mandato e ficou preso dois anos. O escritor chamou a atenção com seu primeiro romance, Os ratos (1935), em que recompõe com meticulosidade e humor cáustico a vida da classe média gaúcha de seu tempo, às voltas com o árduo cotidiano. O livro recebeu o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras. Embora reafirmassem o mesmo intimismo materialista, os romances seguintes, O louco do Cati (1942), Desolação (1944), Passos perdidos e Os deuses econômicos (1966), tiveram pouca receptividade. Dyonélio Machado morreu em Porto Alegre RS em 19 de junho de 1985.

OBRA - enredo: um dia na vida de Naziazeno Barbosa, funcionário pertencente ao estrato da classe média menos favorecida, tenta por todos os meios conseguir 53 mil reis para saldar uma dívida com o leiteiro, que lhe havia sentenciado pela manhã – lhe dou mais um dia. Essa frase fica ecoando na cabeça do protagonista, atormentando-o. Caso a dívida não fosse paga, o fornecimento do leite seria suspenso e o filho, que tinha problemas de saúde, não podia passar sem o leite. A cena de humilhação ocorre logo pela manhã. Depois de ter visto sua condição de mau pagador espalhada pela vizinhança, Naziazeno sai em busca do dinheiro para resgatar a dívida. Do escritório para a rua, passa o dia inteiro atrás de alguém que lhe pudesse emprestar o dinheiro. De início, pensa em pedir um empréstimo ao chefe. Conversa com seu amigo Alcides, que diz que o poderia valer, se ele recebesse uma dívida de 100.000 réis do Andrade, para quem intermediara um negócio. Naziazeno é ludibriado, pois o credor de Alcides diz que quem devia ao amigo de Naziazeno era outra pessoa. Sem dinheiro para almoçar, acaba procurando um conhecido para um pequeno empréstimo. Encontra, por acaso, o Costa Miranda que lhe empresta 5.000 réis. Ao invés d almoçar, Naziazeno aposta o dinheiro. E perde. Naziazeno vai até um atacadista, pede um empréstimo, sem êxito. De volta a um café, encontra o Alcides. Relata os ocorridos. O Duque está lá, conversando com um senhor de idade. Sugere a Naziazeno um empréstimo com o Rocco. São 18:20. Não consegue. Novo agiota. Nova negativa. Pensam, então, em abordar o Mondina [pseudo-advogado, velhusco]. Resgatam o anel do avô de Alcides que estava penhorado por um valor baixo [ajuda de Mondina]. O anel é penhorado por 300.000 réis. Sessenta mil são emprestados a Naziazeno, que, finalmente, volta para casa. Antes, porém, resgata os sapatos da mulher q estavam sendo consertados, compra queijo, manteiga e brinquedos para seu filho. Comem e vão dormir. Naziazeno rememora as situações vividas durante o dia. Não consegue dormir. Vai com a mulher à cozinha e deixa o dinheiro do leiteiro junto da vasilha onde a bebida seria despejada. Tenta dormir, mas fica sobressaltado com chiados que vêm da cozinha. Teme que os ratos roam o dinheiro. Insone, rememora os eventos que o levaram ao valor para pagar o leiteiro. Novo chiado dos ratos. Sobressalto. Ao final da madrugada, Naziazeno ouve o barulho do leite enchendo a vasilha e os passos do leiteiro se distanciando. Enfim, dorme.

OBRA - análise: Publicado em 1935, Os Ratos, tornou-se uma das obras mais influentes da 2ª geração do Modernismo.
Sua narrativa é apresentada numa linguagem simples, direta, rápida A preocupação com a boa linguagem não afasta o escritor da realidade urbana. Assim, os diálogos entre as personagens retratam a língua coloquial. Cada um dos 28 capítulos tem sua própria célula de suspense, que será resolvida no máximo no seguinte, em que obrigatoriamente surgirá outra. Há na obra uma cruel crítica à maneira como o dinheiro acabou se tornando a mola propulsora das relações sociais. Em suma, todos esses aspectos fazem de Os Ratos uma das obras mais nobres de nossa literatura.

O Título Os Ratos é uma referência ao drama psicológico de Naziazeno Barbosa, protagonista da história, depois de ter conseguido o dinheiro para saldar a dívida com o leiteiro. Naziazeno, meio dormindo, tem o seguinte pesadelo: os ratos estão roendo o dinheiro que ele deixara à disposição do leiteiro sobre a mesa da cozinha. Os ratos, ganhando a possibilidade de roerem dinheiro, simbolizam o consumismo da cidade grande, o câncer que aniquila os sonhos dos proletários, a desvalorização da solidariedade em função de padrões materiais que elevam o dinheiro à condição meta principal a ser alcançada.

O Drama: O drama principal do romance não se concentra no leiteiro, nem nos ratos ou no dinheiro: concentra-se na dificuldade para conseguir a quantia desejada, respeitando-se o limite de tempo e espaço.

O Estilo: Os Ratos se enquadram, dentro do movimento modernista brasileiro, no chamado Romance de 30: denominação dada a um conjunto de obras de ficção produzidas no Brasil a partir de 1928, ano de publicação de A Bagaceira, de José Américo de Almeida.
A obra é um romance social por excelência. O drama urbano da classe média baixa encontra protótipo perfeito em Naziazeno Barbosa, o herói fragilizado pela preocupação de cumprir um papel social no caos urbano em que vive.

O Tempo: cronológico - Em Os Ratos, as ações dos personagens acontecem no tempo cronológico ou linear, marcado pela passagem das horas, durante um dia de peregrinação de Naziazeno. O passar das horas é uma preocupação cruciante para o herói que não pode voltar para casa sem o dinheiro do leiteiro. Psicológico - O tempo psicológico (interior, aquele que transcorre dentro dos personagens, marcado pela ação da memória, das reflexões) é valorizado principalmente nos últimos capítulos do livro.

O Cenário: O cenário de Os Ratos é Porto Alegre.

Foco narrativo:
A obra é narrada em 3ª pessoa por um narrador onisciente (totalmente fora a trama) e cujo modo de narrar é apreendido pelo uso de verbos em 3ª pessoa. Esse narrador manipula, organiza as falas, os pensamentos e atitudes das personagens. Além disso, ele antecipa tudo aquilo que vai acontecer e ainda dá impressões bastante detalhadas de tudo e de todos. Trata-se, assim, de um narrador presente e onisciente, que se revela bastante crítico e consciente da matéria narrada. Um ingrediente essencial à narrativa é a ironia (humor) e até a mordacidade, com as quais o narrador intensifica a sua sátira sócio-política.

Temática

*  Luta por dinheiro
* Angústia do ser humano à condição urbana
* Narrativa em círculo
* Lembrança do passado

VISÃO SATÍRICA: Através da sátira, da deformação, da caricatura, Dyonélio Machado, critica e ridiculariza certos valores sócioculturais. Assim, desnuda a hipocrisia das relações humanas, questionando criticamente instituições públicas e políticas.
·                     Há, na obra, uma cruel crítica à maneira como o dinheiro acabou se tornando a mola propulsora das relações
sociais, comandando a respeitabilidade, a ética, a dignidade e até injusta e facilmente, quando não arbitrária e despoticamente, degradando-as, detonando-as. Em suma, todos esses aspectos fazem de Os Ratos uma das obras mais nobres de nossa literatura.
. O autor satiriza, através da figura de Naziazeno, o consumismo exagerado, o gosto pelo supérfluo.
. Dyonélio Machado explorou efeitos cômicos, ridículos e patéticos, a partir das atitudes insensatas e desesperadas de Naziazeno em busca do dinheiro para pagar ao leiteiro.
1 – A ida de Naziazeno à casa de um desconhecido buscar um dinheiro de uma transação da qual Naziazeno não
havia participado;
2 – A decisão de procurar o Sr. Rees, sem ao menos conhecê-lo;
3 – A vigília constante diante da porta de Otávio Conti, tentando provocar um encontro casual;
4 - O desejo de querer mais e mais, que levou Naziazeno a perder cento e sessenta e cinco contos de réis na roleta;
5 – Os gastos com manteiga e queijo importado, após conseguir dinheiro com Duque.

Personagens: Naziazeno é um herói impotente diante de uma situação aparentemente simples: conseguir dinheiro para garantir o bem-estar da família (principalmente do filho pequeno). É o homem comum rebaixado à condição de miserável, exposto à humilhação e ao anonimato que caracterizam o viver das aglomerações urbanas.
Naziazeno Barbosa - Modesto funcionário público, Naziazeno é o herói da história. Fragilizado pela condição de penúria material, atormentado pela necessidade de saldar uma dívida com o leiteiro.
Adelaide - Dona de casa, esposa de Naziazeno. Convive, diariamente, com as dificuldades de um orçamento familiar minguado, insuficiente para o sustento digno da família.
Mainho - Filho de Naziazeno e Adelaide.
Dr. Romeiro - Diretor da repartição pública onde Naziazeno trabalha. Há suspeitas de corrupção sobre ele. Certa vez, emprestou dinheiro a Naziazeno.
Otávio Conti - Advogado.
Dr. Mondina - Falso advogado; bajulado por conta do dinheiro de que dispõe. Foi quem desembolsou o dinheiro para o grupo (Naziazeno, Alcides e Duque), permitindo ao herói voltar para casa com a quantia devida ao leiteiro.
Rocco - Agiota para quem Alcides já deve uma grana. Nega-se a fazer novo empréstimo.
Fernandes - Agiota que se nega a emprestar dinheiro (cem mil réis) a Duque.
Assunção - Agiota da Rua Nova. Nega-se a emprestar dinheiro.
Alcides - Amigo de Naziazeno, solidário com ele na pobreza e nas dificuldades, fazendo tudo para ajudá-lo.
Duque - Amigo de Naziazeno e de Alcides. Inspira confiança porque tem sempre uma solução para os problemas que envolvem dinheiro.
Fraga - Vizinho de Naziazeno. Parece ter uma vida bem arrumada, não precisando passar pelos vexames financeiros por que passa o protagonista.
Costa Miranda - Amigo de Naziazeno; emprestou-lhe, na rua, cinco mil réis para o almoço.
Martinez - Dono da loja de penhores onde o anel de Alcides estava guardado. Mostrou boa vontade e foi, à noite, abrir a loja para devolver a jóia.
Dupasquier - Dono de uma joalheria. Examina o anel de Alcides e oferece trezentos e cinqüenta mil réis. Quando descobre que a proposta é de penhor, desiste do negócio.