quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Sua jornada moldou você para seu bem maior, e foi exatamente o que
precisava ser.
Não pense que você perdeu tempo. Não existem atalhos para a vida. Foi necessária cada e toda situação que você encontrou para trazê-lo para o agora.
E agora é o momento certo.



Asha Tyson

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Os Bruzundangas - URCA 2012


Os Bruzundangas, publicado em 1923, é obra póstuma de Lima Barreto. Uma coletânea de crônicas, onde o autor com a percepção aguda e crítica, não deixa escapar nada. Satiriza uma fictícia nação onde ele mesmo teria residido. Seus capítulos enfocam, entre outros temas, a diplomacia, a Constituição, transações e propinas, os políticos e eleições em Bruzundanga. Critica os privilégios da nobreza, o poder das oligarquias rurais, a futilidade das sanguessugas do erário, desigualdades, saúde e educação tratadas com desdém, enfim, mazelas parecidas às de um país real. Ao lê-lo, tem-se impressão de que o escritor não se fez arauto de seu tempo; o Brasil é que patinou nos descaminhos de si.

Com malandrice carioca e estilo ágil, próximo da caricatura e zombaria, o afro-brasileiro Lima Barreto é mestre da ficção de escárnio. Nas raízes do imaginário país grassam oportunistas, apaniguados, retrógrados e escravocratas de quatro costados. Sobre os usos e costumes das autoridades, escreve que não atendem às necessidades do povo, tampouco lhe resolvem os problemas. Cuidam de enriquecer e firmar a situação dos descendentes e colaterais. Diz: não há homem influente que não tenha parentes e amigos ocupando cargos de Estado; não há doutores da lei e deputados que não se considerem no direito de deixar aos filhos, netos, sobrinhos e primos gordas pensões pagas pelo Tesouro da República. Enquanto isto, a população é escorchada de impostos e vexações fiscais; vive sugada para que parvos, com títulos altissonantes disso ou daquilo, gozem vencimentos, subsídios e aposentadorias duplicados, triplicados, afora os rendimentos que vêm de outras e quaisquer origens.

Ao presidente de Bruzundanga, que deve ser um deslumbrado e completo idiota, chamam-no "Manda-chuva"; à justiça, "Chicana". A Carta Magna redigida por espertos (e não expertos) explicita um providencial adendo: toda a vez que um artigo ferir interesses de parentes de pessoas da ‘situação’ ou de membros dela, fica entendido que não tem aplicação. No fundo, todos flertam com a "situação" porque ela garante o continuísmo. À plebe desmemoriada e ignorante, pra que não fique gritando viva o doutor Clarindo!, viva o doutor Carlindo!, viva o doutor Arlindo! – quando o verdadeiro nome do doutor é Gracindo, criou-se a "Guarda do Entusiasmo", constituída de dez mil indicados sem concurso, uniformizados "de povo", com função de disciplinar e reorientar as aclamações e vivas da multidão.

Muito mais é Bruzundanga em seus cânones sócio-políticos, religiosos e culturais, e no atraso visceral – conforme se lê no prefácio – de uma nata enquistada no canibalismo simbólico da "Arte de Furtar": os maiores ladrões são os que têm por ofício livrar-nos de outros ladrões.

No primeiro capítulo de Os Bruzundangas, Lima Barreto critica a superficialidade e o preciosismo da literatura parnasiana, além da linguagem misteriosa e mística do Simbolismo. Cita ainda um verso do poeta Worspikt em que há a repetição da consoante "L" (aliteração), recurso chamado no livro de "harmonia imitativa".

No capítulo "Um Grande Financeiro", Lima Barreto critica os economistas incompetentes e contraditórios da Bruzundanga, através do personagem caricatural Felixhimino Ben Karpatoso.

"Bruzundangas" é um substantivo feminino que pode significar "palavreado confuso, mistura de coisas imprestáveis, mixórdia, trapalhada, embrulhada". Neste livro, Lima Barreto fala da arte de furtar, de nepotismos desenfreados, de favorecimentos e privilégios. A própria sociedade, as eleições, a religião, os literatos e a imprensa são cáusticamente abordados por ele e servem de pano de fundo para a construção de sua obra literária.

O livro é um diário de viagem de um brasileiro que morou tempos na Bruzundanga, conheceu sua literatura, a escola samoieda (falsa, monótona e afastada da cultura, com autores fúteis e aconchavados com a classe dominante); sua economia confusa que exauri a riqueza do país, sendo dominada pelos cafeeiros da província de Kaphet.

Mostra também a obsessão por títulos como os de nobreza e os de doutor, mesmo quando seus possuidores não são nobres e são pouco letrados. A seguir critica a legislação (a Constituição, baseada na de um país visitado por Gulliver, tem uma lei que diz que se a lei não for conveniente a situação ela não é válida), a política (os presidentes, chamados Mandachuvas, assim como os ministros, os heróis e os deputados, são estúpidos e vazios), o processo democrático (tão corrupto quanto era na República Velha), a ciência, o resto da cultura (quase nula, por vezes perto do negativo), o exército e a política internacional.

Lima Barreto fala de dois tipos de nobreza existentes na Bruzundanga: a nobreza doutoral e a que ele chama "de palpite". A primeira é formada pelos doutores, os que têm diploma de nível superior. Lima Barreto diz que a sociedade em geral valoriza extremamente os doutores. No final do capítulo referente à nobreza doutoral, ele expõe uma escala de valores dos cursos de nível superior, os dois mais valorizados são o de Medicina e o de Direito, respectivamente.

Repleto de caricaturas de personagens da vida política da época, como Venceslau Brás e o Barão de Rio Branco, o livro é uma crítica ferina a sociedade brasileira, sua literatura e sua organização político- econômica.

Dizem que os cães vêem coisas - URCA 2012




São tantos (embora ainda poucos) os ensaios e artigos relativos à obra de Moreira Campos publicados desde o surgimento de Vidas Marginais (1949) que o articulista de 2004 corre o risco de repetir conceitos e opiniões. No entanto, como estou empenhado em escrever breves impressões a respeito dos principais contistas cearenses, não posso ficar atado à opinião dos críticos. Nem mesmo à de estudiosos como Batista de Lima, especialmente no livro Moreira Campos – A Escritura da Ordem e da Desordem (Edição da Secretaria da Cultura e Desporto do Estado do Ceará, Fortaleza, 1993), sem dúvida um dos mais bem realizados estudos da obra moreiriana.
Especializou-se Moreira Campos no drama familiar urbano, embora tenha também cultivado o chamado conto rural, semelhante ao regionalista. Em muitas narrativas esse conflito se dá no plano amoroso: quase sempre marido ou mulher infiel. Outras vezes o embate é interior, do protagonista. Em “A gota delirante”, do livro Dizem que os cães vêem coisas (2 a. ed. 1993), o protagonista se debate em pensamentos sobre possuir ou não a mulher do primo. Constituída quase toda de blocos narrativos, com poucas falas e uma ou outra referência a objetos descritíveis (“vestido fino”, “calcinha de rendas”, “leveza desesperadora do baby-doll”), a história se dá mais no plano da imaginação, mesmo não sendo narrada na primeira pessoa. Em “A Carta”, do mesmo livro, a noiva se apaixona pelo amigo do noivo, que lhe entregava cartas enviadas pelo futuro marido. Em poucas linhas o leitor vai percebendo o desenrolar do conflito, sem que o noivo apareça. Em “Banho de Bica” o drama amoroso reaparece. O núcleo dramático (o banho de bica do homem com a empregada na casa de campo) se esgarça no tempo e no espaço. A mulher traída esbraveja, planeja a separação conjugal, e a trama se vai esfiapando, até alcançar o fim sem desenlace, num diálogo banal: “– A manhã está bonita – ele disse. – Está.”

Um dos mais famosos contos de Moreira Campos é “Lama e Folhas”, do primeiro livro. Narrado na primeira pessoa, como muitos outros dos primeiros livros, tem como tema a morte. O narrador, o rico ou bem sucedido João Sampaio, fala de si mesmo (“Comprei um sítio, perto, num pé de serra”), a misturar passado e presente (flashback), e aqui e ali fala da mulher e outros personagens menores, e principalmente do filho único, do nascimento à morte, aos cinco anos. Ao leitor é dado saber que a história é do começo do século XX: “Às vezes, encontrávamo-nos os dois numa esquina, no ponto do bonde”. A linguagem é apurada, de quem leu muito, embora estas leituras do narrador não se mencionem no decorrer da narrativa. Constituído quase todo de narrações, o conto traz breves diálogos (quase sempre pergunta e resposta). No escoar da narração uma ou outra consideração de ordem moral: “A essa gente não se pode dar muita confiança. Sentem-se logo à vontade e no outro dia faltam ao serviço.”

Os contos de Moreira Campos são narrados ora na primeira pessoa, ora por narrador onisciente. Em “Vigília”, Anselmo mistura os tempos, num vai e vem contínuo, como ondas de um mar de tempos. Sai do presente, dá um longo mergulho no passado, volta ao presente. Como João Sampaio, traça o próprio perfil psicológico: “Envolvi-me numas transações duvidosas: contrabandos, andei vendendo umas máquinas ao governo, com lucro exorbitante.” Outro narrador, Edmundo, de “Coração Alado”, se vale do monólogo interior ou do solilóquio para narrar suas peripécias. Na verdade, são memórias escritas: “Foi quando me veio a idéia de lançar ao papel estes retalhos de memória.” Também neste conto o leitor depara o bonde, isto é, vê situada num tempo mais passado a história. O narrador de “Eu e Dinha” (o “eu” do título é, logicamente, o narrador) não se nomeia, como a mostrar que a protagonista é a negra Dinha, “minha preta”. O tempo é antigo, o dos bondes; o lugar, a velha Fortaleza: “O bonde avançava. Cruzamos muitas ruas, que Dinha não conhecia. Procurava mostrar-lhe prédios e praças. O Parque da Liberdade, a igreja do Coração de Jesus. – Ali é o Liceu.”
A morte como tema central está presente em diversas narrativas, especialmente na obra-prima intitulada “Dizem que os cães vêem coisas”. A morte é a própria protagonista, como se pode ver logo no primeiro parágrafo. Os cães seriam os anunciadores dela – ser invisível aos seres humanos.

A presença de velhos, moribundos ou não, é também uma constante nos contos moreirianos. O conflito é sempre doloroso, como em “A visita ao filho”. Nonato, esclerosado, sai de casa em busca da casa do filho casado e se perde. Desta vez, porém, o desenlace é feliz.

Outro conto clássico é “O Preso”, ambientado em pequena cidade, com a praça da estação, a estrada de ferro, o carro de boi, homens em conversa na calçada, dois soldados do destacamento. O narrador onisciente descreve o ambiente onde os personagens se situam e se movimentam, como se portasse uma câmera de filmar. Todo o embate, porém, se circunscreve a um homem conduzido para a delegacia: “Um velho mirrado e de pele escura puxava um jumento pelo cabresto, ente dois soldados do destacamento.” A narração do calvário do pobre homem é perfeita. Trancafiado numa sela, repete uma frase: “Me soltem, que eu não tenho paciência de ser preso.” A tragédia se consuma com o suicídio, cujo início se dá de fato quando o preso se aproxima da janela e se dirige a um menino na rua: “Olhe, solte ali aquele jumento. Ele é meu. Quer se deitar não pode. Tire o cabresto e me dê.” Com o cabresto se enforcou.

A cidade pequena como palco dos conflitos surge em diversas narrativas. É o caso de “Profanação”, com sua praça principal, o tabuleiro de gamão onde velhos jogam, o casal de jumentos, a igreja onde se dá o coito animal, a profanação do templo. Os protagonistas (os animais) geram um conflito na cabeça dos seres humanos: para alguns homens tudo não passou de um ato animal; para os mais ligados à Igreja, como o padre, os jumentos representavam demônios. A beata Inacinha se fez “perplexa e hipnotizada”. E o narrador-escritor em nenhum momento opina.

“Os Anões”, em que a concisão do contista é mais visível. Mais uma vez Fortaleza é o ambiente da trama. Mais uma vez a estrutura de círculo: uma frase que se repete (“Tu agüenta mesmo um homem?”), no começo, no meio e no fim, a mostrar que o drama da anã Lourdinha não findou, continua. Em “O último hóspede ou Eurico, o noivo” toda a trama se desenvolve numa pequena pensão. Mais uma vez o embate amoroso, aqui de forma inusitada, eis que a terceira personagem, a noiva, não se apresenta, é apenas mencionada, e a quarta, o marido traído, mal aparece, como se de nada soubesse. A narração se faz lenta, noturna, sonambular, como se a história não tivesse fim – os mesmos gestos, os mesmos atos todos os dias, todas as noites. O drama como que se manifesta às escondidas, sem testemunhas. Ou sem espectadores. Em razão disso, não há desfecho. Em “Os três retratos” a concisão se aguça. Em “O Banho”, como o próprio título sugere, tudo se dá num instante, num curto lapso de tempo. Um instantâneo, talvez. Também breve é “As Corujas”, outra obra-prima. Num necrotério, o vigia dos mortos em luta com as corujas, que “pousam sobre o peito dos mortos, arranhando-lhes os olhos parados”. O tempo se alonga, numa luta desesperada do homem em defesa da integridade física dos mortos. E o círculo se fecha, sem final. “Os Estranhos Mendigos” também não apresenta desfecho, porém há nele um embate passado – assalto ao comércio pelos soldados do destacamento –, como a infra-estrutura do conflito posterior – os dois mendigos (ex-soldados) estropiados nas ruas. Esse lapso de tempo alongado se vê em muitos contos, como em “Frustração”.

Esse tipo de conto sem desfecho, iniciado em O Puxador de Terço, se aperfeiçoou no livro Dizem que os cães vêem coisas (que não deixa de ser uma antologia pessoal). “O cachorro” é todo uma síntese. E o desenlace se dá no meio da história. Ou então o desfecho é a trama. Em “Os Doze Parafusos”, outra das mais conhecidas e belas narrativas curtas de Moreira Campos, o remate se dá um pouco antes do final, quando a personagem se suicida. Em “Os moradores do casarão” os conflitos mais importantes são passados. Em razão disso, o desenlace (no presente) é apenas um instante do cotidiano.

Utiliza Moreira Campos em alguns contos o personagem sem nome, como em “A Carta”, do volume Dizem que os cães vêem coisas: o noivo, a noiva, o amigo, a mãe, a velha, ele, ela. E também em “Os doze parafusos”. Às vezes o único personagem com nome é secundário, como o Dr. Marcos, deste conto. Veja-se também “Banho de bica”. O homem é o “cínico”, o “canalha”. A mulher, que assim o trata, é apenas “ela”, ou “a mulher”. No entanto, a filha do casal, menina, sem importância no entrecho, é Denise. Desse mesmo tipo são “O dia de Santa Genoveva” e “Os meninos”. Neste os meninos não têm nome nem “aquela que ajudara a criar os meninos”. O único personagem com nome é Osório, o entregador de marmitas, que aparece apenas uma vez. E assim ocorre em muitos outros contos. Em “A caixa de fósforos vazia” o conflito amoroso reaparece em personagens sem nome: a tia, o tio, o sobrinho. Para o leitor está tudo claro, porém o tio aparece como o grande inocente. Há, no entanto, narrativas em que todos os personagens são nomeados, como as freiras de “A Ceia”. De enredo simples, há uma cena central, a própria ceia, com narração mais encorpada, seguida de outras cenas menores.

Não se vê em Moreira Campos a descrição excessiva. Quando a utiliza, no entanto, o faz de maneira a preparar o terreno (o palco) para que o personagem nele se movimente. Veja-se “O Peregrino”, o começo: “Chão rude, áspero, mais de pedregulhos.” Mais adiante o narrador fala de horizontes, ramaria seca, bacuraus, folhagem do imbuzeiro. O enredo é de cunho regionalista: vidas pobres, morte por picada de cobra, a chegada do peregrino. Em “Irmã Cibele e a Menina” ocorrem breves descrições do orfanato de freiras onde se desenrola a trama: o pavilhão, o longo corredor, o pavimento escuro. Como em muitos outros contos, o tempo da narração é fatiado. Diversas ações se encadeiam e culminam (desfecho) na sugação dos nascentes seios da menina órfã pela boca de irmã Cibele. (...) “a língua de irmã Cibele era ativa e morna, os dentes mordiam com muita delicadeza, quase roíam.” No último parágrafo (ato) a menina se recolhe ao dormitório e se põe a soliloquiar. Sugere o narrador a proximidade do sono. O homossexualismo feminino está presente também em “Os desgostos de Dona Bianca”. Para o leitor esse conflito só se aguça no meio da narrativa.

Em outros contos Moreira Campos apresenta diversas ações (tempos) subseqüentes, como em “A Sepultura”, no qual se apresentam alguns núcleos dramáticos: no ônibus quebrado; no caminhão, com o motorista e o ajudante; na estrada (a fuga de Durvalina pelo mato); e no dia seguinte na casa dos pais e de volta ao lugar onde estaria uma sepultura e de onde a protagonista fugiu no dia anterior.

Muitos outros aspectos na obra de Moreira Campos poderiam ser mencionados neste artigo, como a presença de animais nos dramas (moscas, cães, corujas, jumentos). Outros merecem análise mais profunda, talvez até ensaios exclusivos, como é o caso do desfecho diluído ou posto no meio da narração. Entretanto, isto é apenas um artigo.





Fuga pela Claraboia - URCA 2012 (ENTREVISTA)



Entrevista com o professor-poeta Francisco de Freitas Leite.


Freitas, como um de seus livros vai cair no vestibular da URCA, queriamos saber:

1)             Qual seu estilo?

Em minha poesia como um todo (considerados os quatro livros publicados e os inéditos), não consigo definir um estilo que a caracterize definitivamente (talvez a falta de um estilo determinado seja sua marca) e prefiro vê-la como poesia típica do ecletismo pós-moderno, mas um outro (um crítico vendo-a com o discernimento próprio do que olha de fora) possa-a melhor identificar nela um estilo que eu, com autor (de tão de dentro que a observo), não consigo enxergar.
Em Fuga pela claraboia em particular, (diferentemente de Nacos, cujo estilo formal de poesia visual é a marca principal) o estilo da poesia versificada sem rima e sem métrica de gosto mais jovial ocorre predominantemente. Não há uma temática rígida a não ser a inquietação poética do olhar inventivo do poeta no cotidiano das gentes.

2)             Sua inspiração?

Em fuga pela clarabóia aparecem poemas com diversas temáticas e de motivos diversos. Não há uma inspiração única (como o sertão reinventado de Ave, sertão!), mas uma coleção de poemas reunidos pelo pretenso desejo de constituir um livro leve e de leitura ao gosto de um público jovem.

3)             Você segue alguma corrente?

Não. Correntes prendem e, como já dizia Belchior, “não vou eu mesmo atar minha mão”... prefiro estar à vontade para seguir aonde levar a poesia.

4)             Quais são as principais características notadas em seus poemas ou escritos?

Falando exclusivamente de Fuga pela claraboia, quanto à forma a principal característica é a não adoção de forma fixas de poemas e o, como já dito, o uso de versos sem rima e sem métrica, mas organizados conforme o ritmo ou em função da expressividade poética; quanto ao conteúdo, é caro para mim o ser humano em seu interior conflituoso e em seu exterior processual.

5)             Como poderíamos analisá-los?

Analisar poesia é tarefa complexa, porque poesia é mais pra ser sentida do que pra ser entendida ou compreendida. Isso quer dizer que, nessa tarefa, entram componentes individuais, vivenciais, mas também conhecimentos estéticos... ou seja, para se analisar poesia, tem-se de ter “leituras” que vão além das leituras poéticas... de qualquer forma, indico, como exemplos de análises e estudos da minha poesia, os prefácios dos quatro livros (em Fuga pela claraboia, o prefácio é de Íris Tavares), uma monografia sobre minha produção poética de autoria de Ana Cristina S. Prado e um artigo do professor Flávio Queiróz publicado no livro “As veredas da pesquisa em Letras: ensaios críticos e teóricos”.


Os Cus de Judas - URCA 2012

Seis anos após o término da guerra colonial, é lançado, em 1979, Os Cus de Judas, de Antonio Lobo Antunes, que conta a trajetória de um soldado português que servira o exército colonial em Angola e, a partir desse contacto com a situação em África, vê sua vida, seus valores sendo destruídos.

Segundo o autor, em entrevista publicada em Lisboa em abril de 1994, o livro é parte de uma trilogia que inclui Memória de Elefante (anterior) e, Conhecimento do Inferno (posterior) a obra em questão. O retrato da guerra colonial é a marca dessa etapa ou ciclo de sua vida, como ele mesmo afirma.

"A dolorosa aprendizagem da agonia" - assim classifica Lobo Antunes a guerra de Angola, fração da guerra colonial portuguesa; assim se resume o processo a que é submetido o leitor na descoberta daquele que é o segundo livro do autor.

Encontramo-nos perante um testemunho. Ao evoluirmos gradualmente na sua leitura vamos desmontando a guerra do ultramar, sendo guiados através dos 27 meses que o narrador se encontrou ao serviço da pátria portuguesa.

Partindo do relato do narrador, das experiências a que foi sujeito e da forma como as interpreta e com elas lida, traça-se um percurso que desemboca inevitavelmente na conclusão/admissão do gigantesco, inacreditável absurdo da guerra.

Delineia-se um retrato demasiado bruto e verdadeiro para se poder falar de uma caricatura. A seriedade e crueldade da narrativa fazem surgir o livro mais como que uma denúncia. Ou antes: é deste modo apresentada uma visão da realidade, uma posição sobre os fatos, uma voz silenciada que entra em erupção e vem contar a sua versão. Numa narrativa não-linear e fragmentada, Lobo Antunes revela as inquietações existenciais de um ser humano, na indelével experiência de uma guerra, que se misturam às memórias de infância e juventude na Lisboa salazarista.

O autor utiliza-se, na maior parte do romance, do fluxo de consciência e da associação de idéias, para construir a história e o perfil de seu narrador-protagonista, um personagem que, a partir de "uma dolorosa aprendizagem da agonia", vê sua vida e seus valores estilhaçados pela melancolia. O que lhe resta são fragmentos de memória — a criança que visitava com os pais o jardim zoológico aos domingos, o jovem que assiste impassível a seu futuro sendo traçado pela autoridade inquestionável de uma família salazarista, o adulto apático e frustrado diante da violência que lhe retira as rédeas e o sentido da vida.

Decadência, putrefação, pestilência, morte. Adicionando canalhice, violência e absurdidade poder-se-ia reunir as palavras-chave basilares de tal exposição.

O texto de Antunes não se enquadra no gênero de narrativa de viagem tal como é concebido pela literatura moderna, entretanto, é possível a leitura de um discurso de viagem apanhado de viés, ou seja; a desconstrução ou a ante-viagem (se é que podemos utilizar esses termos) , visto sob a óptica de uma simbologia atual.

Tempo / espaço / estrutura

Os estilhaços que recompõem os contornos da memória nos romances de Lobo Antunes recolhem informações vividas em espaços de tempo variados, mas contados em breves períodos, de chofre, de um só fôlego. No caso de Os Cus de Judas, o “ato de contar” tem as ações transcorrendo em uma só noite. Se o tempo é breve no presente da narrativa — entre a mesa de um bar, algumas boas doses de uísque, um convite e o anseio para vencer a solidão - o tempo recolhido pela memória é elástico, é um tempo que se volta para a infância remota, as recordações da família, um tempo em que ele se alista nas fileiras da força colonialista portuguesa, um tempo em que ele parte e, finalmente, um tempo em que ele sobrevive na África, numa luta que lhe parece vazia de sentido.

Com vinte e três capítulos curtos, seqüenciados de A a Z, sem interrupções na ordem do alfabeto, desenrolam-se ações em dois planos temporais: um cronológico, período de tempo de uma noite, que vai do encontro do narrador com uma mulher em um bar até o amanhecer deles, depois de uma noite de sexo, sem amor. O tempo cronológico constitui-se no tempo da fala, no tempo de um enorme monólogo em que o narrador expõe a uma mulher não nomeada suas angústias e a mediocridade da vida que o cerca; outro passado, um tempo elástico reconstituído a partir de fragmentos soltos, recolhidos dos escombros das memórias constituem uma coleção de insucessos que o levam a sentir-se um ser espúrio, um pária, um fracassado.

Convém lembrar que a sensação de fracasso que domina o narrador está intimamente associada aos insucessos dos tempos em que ele exercia funções no exército português de combate às guerrilhas africanas.

Passamos vinte e sete meses juntos nos cus de Judas, vinte e sete meses de angústia e de morte juntos nos cus de Judas, nas areias do Leste, nas picadas dos Quiocos e nos girassóis do Cassanje, comemos a mesma saudade, a mesma merda, o mesmo medo, e separamo-nos em cinco minutos, um aperto de mão, uma palmada nas costas, um vago abraço, e eis que as pessoas desaparecem, vergadas ao peso da bagagem, pela porta de armas, evaporadas no redemoinho civil da cidade.

Durante uma única noite, o narrador tece o enredo da obra, elaborando um relato em que confunde as ações de guerra, a política desenvolvida pelo seu país quanto às colônias na África e as posições assumidas por ele (país) e ele (narrador) após o término do conflito, o passado, o casamento, enfim, misturam-se os fatos todos da vida que afloram pelas doses excessivas de álcool e de solidão.

Foco narrativo

A obra é narrada em primeira pessoa, por um narrador-personagem.

Linguagem

Narrativa altamente sarcástica. Linguagem irreverente, inovadora,  o  erotismo com que descreve as mulheres, dá, à obra, um caráter feminino. A linguagem chula, os palavrões que aparecem no decorrer da obra, revelam a revolta do narrador com a ditadura, salazarista. O autor-narrador, em um bar, usando o monólogo, pois conversa com uma mulher que nunca lhe responde, enquanto bebem, narra-lhe a sua vida,   fazendo uma crítica mordaz à Ditadura, não só em termos políticos, como também à castração cultural por ela imposta.

Vindo de uma família de militares, o universo familiar também não escapa ao crivo crítico, principalmente os velhos, avós, avôs, tias e tios, por refletirem um mundo estagnado, sem perspectivas de avanço.

Lembranças sinestésicas (sinestesia) da infância, representada por termos ligados ao jardim zoológico: bichos, vendedores ambulantes e do professor preto nos rinques de patinação, mesclam-se ao mundo adulto: termos ligados à medicina.

Tudo isso forma uma linguagem inovadora, de uma plasticidade surreal.

Ex.: “o empregado de ancinho que empurrava as folhas para um balde aparentava-se, sem dúvida ao cirurgião que me varreria as pedras da vesícula para um frasco coberto de rótulo adesivo; uma menopausa vegetal em que os caroços da próstata e os nós dos troncos se aproximavam e confundiam...”

“O restaurante do jardim, onde o odor dos animais se insinuava em farrapos diluídos no fumo do cozido, apimentando de uma desagradável sugestão de cerdas o sabor das batatas..”

“ ...guaritas de sentinelas onde oficiavam empregados bolorentos, a piscarem órbitas míopes de mocho na penumbra úmida?”

Personagens

Sofia - lavadeira negra com quem o narrador-personagem teve um filho.

Isabel - sua ex-esposa.

Tia Teresa – a velha tia que nunca o elogiava, só o criticava.

Maria José

Mete Lenha

Senhor Jonatão – negro enfermeiro com sorriso de Tim-Tim.

Enredo

Ao retornar a Portugal, após vinte e cinco meses de sofrimento, servindo como médico na Guerra Colonial da África, o autor-narrador se  desabafa, num monólogo com uma moça em um bar. O sofrimento, a violência, as mortes e  a hipocrisia política vivenciadas, marcaram-no de tal maneira que ele não consegue se adaptar à vida costumeira, tanto que ele acaba se separando da mulher, Isabel, com quem tinha duas filhas.

Enquanto conversa com a moça, fala da casa em que crescera, perto do zoológico, de seus pais, do quarto dos irmãos, de onde se viam os camelos e  ouviam as focas.

Ironicamente, fala das tias: “avançavam aos arrancos como dançarinas de caixinha de música nos derradeiros impulsos da corda...e proclamavam azedamente” que ele estava magro.

A frase que elas diziam “felizmente a tropa há-de torná-lo um homem.”, acabou se tornando uma profecia transmitida ao longo da sua infância e da adolescência “por dentaduras postiças de indiscutível autoridade, que se prolongava em ecos estridentes nas mesas de canasta, onde as fêmeas do clã forneciam à missa dos domingos...”.

Os tios, que ele admirava em criança, em adulto, são vistos como fúteis, que só sabiam discutir o tamanho das nádegas das criadas.

A figura de Salazar, que o acompanha desde criança, é vista com ironia.

Lembra-se do dia da sua partida para Angola, a bordo de um navio cheio de tropa e da “tribo”, que compareceu em peso no cais, num arroubo patriótico, agradecida ao governo que lhe possibilitava a metamorfose de o transformar em homem. Para ele, os familiares presentes tinham ido assistir à sua própria morte.

No campo militar em Santa Margarida, a ginástica diária do autor e demais militares era a masturbação.

Lá, as fúteis senhoras do Movimento Nacional Feminino iam distribuir medalhinhas de santos com a efígie de Salazar.

À medida em que o navio se afastava de Portugal, o autor se questionava, tentando buscar um motivo para estar ali.

Ao chegar em Luanda, depara-se com a miséria: “as  gordas barrigas de fome das crianças imóveis.”. Sentindo-se mal,  pois fora nascido e criado “num acanhado universo de crochê, crochê de tia-avó e croché manuelino”, tentava achar uma justificativa bíblica para tamanho massacre.

Foi em Luanda que começou a sua dolorosa aprendizagem da agonia.

Em Gago Coutinho ficava o posto da PIDE (Policia Internacional de Defesa do Estado), a administração, o café do Mete Lenha e a aldeia dos leprosos.

Uma vez por semana o sino da igreja tocava chamando os leprosos para remédios no hospital. Lá, o senhor Jonatão, o enfermeiro negro da  delegação de saúde nominal, que sorria constantemente como os chineses de Tim-Tim, distribuía-lhes comprimidos.

Gago Coutinho era também o café do Mete Lenha, branco sopinha de massa cujo esforço pra falar o torcia de caretas de defecação, casado com “uma espécie de botija de gascidia enfeitada de colares estridentes, sempre a queixar-se aos oficiais dos beliscões com que os soldados lhe homenageavam as nádegas atlânticas, difíceis, aliás de discernir numa mulher aparentada a um imenso glúteo rolante em que mesmo as bochechas possuíam qualquer coisa de anal e o nariz se aparentava a inchaço incômodo de hemorróida.”

No edifício sinistro do hospital civil,  a cada ferido  de emboscada ou de mina que chegava, o autor narrador se questionava se eram os guerrilheiros ou Lisboa que os assassinavam, Lisboa, os americanos, os russos, os chineses e esbravejava: “ o caralho da puta que o pariu combinados para nos foderem os cornos em nome de interesses, que me escapam, quem me enfiou sem aviso neste cu de Judas de pó vermelho e de areia.”

Às vezes chegavam visitas inesperadas ao cu de Judas: oficiais do Estado-Maior de Luanda, que o formol do ar condicionado conservava.

Já bêbado, revela que em 61 ele já fugia da polícia do Estádio Universitário e que a única coisa que Salazar fazia era espetar o dedo.

Retomando a narrativa da África, fala dos bordéis e das bebedeiras.

Em Chiúme, a região mais miserável,  em 22 de junho de 71, é chamado no rádio para receber a notícia do nascimento da sua filha, casara-se quatro meses antes da partida.

Ainda lá, depara-se com uma cena chocante, sessenta pessoas encerradas em uma senzala, alimentavam-se em latas enferrujadas, de restos de comida do quartel.

Após oferecer-se para pagar a conta, ele fala sobre um exército de negros que servia a PIDE e era conhecido como “os assassinos a soldo dos colonialistas portugueses”

Nove meses depois, foi conhecer a filha.

Retornando à África,  conheceu Sofia, uma lavadeira negra, com quem teve um filho, mas ela foi levada pela PIDE para “trocar o óleo dos soldados”, esta foi a informação que ele recebeu quando a procurou. O narrador, mesmo se revoltando com a situação, nada fez para resgatá-la.

Mesmo em seu apartamento e em companhia da mulher do bar, ele continua a narrativa sobre a guerra , chegando a se sentir um prisioneiro do governo.

Após a noite amorosa fracassada, ele começa a imaginar vários apetrechos supérfluos anunciados para os homens se darem bem, ou no amor ou na vida. É uma galeria de produtos obsoletos, como claviculone eletrônico, spray norueguês cebolov, etc – além de se perceber aqui que o narrador não consegue mais se reintegrar na sociedade, tem-se uma crítica ao consumismo.

Vinte sete meses depois, em Portugal, foi visitar a tia. Assim que entrou, a única coisa que ouviu da tia foi: “ – Estás mais magro. Sempre achei que a tropa te tornaria homem, mas contigo não há nada o que fazer.”

Assim que acabou de narrar, a “interlocutora muda”, sai e ele, como costumava fazer quando criança, pensa em puxar os lençóis para cima e fechar os olhos, temendo, ironicamente, a visita da velha tia Teresa.

Comentários

Discutir o tema da viagem como resgate de uma experiência humana dolorosa, num cenário em que os atores não dialogam amigavelmente, não desejam trocas de experiências culturais e, se sobreviverem, trarão no corpo as marcas de uma guerra fratricida, é o cerne dessa comunicação.

A personagem não nomeada de Antunes é incitada por membros de sua família, tradicional portuguesa, a acreditar que o exército fabrica homens de verdade. As maiores virtudes tais como; valentia, honestidade, caráter entre outras, são atributos da farda, não do homem.

"Estás magro (...) . Felizmente que a tropa há de torná-lo homem. (Os cus de Judas, pág.12)

Numa crescente angústia o soldado mobilizado para combater em terras de além-mar, vai sendo conduzido, como um boi para o abatedor. Imagens do navio se afastando do cais a incerteza da volta, o choro, as lágrimas, talvez a última visão da cidade vão sendo retratadas.

"...Lisboa principiou a afastar-se de mim num turbilhão cada vez mais atenuado de marchas marciais em cujos acordes rodopiavam os rostos trágicos e imóveis da despedida..." (idem, pág. 16)

Porém, nem todos os que eram mobilizados deixavam-se levar nessa viagem quase suicida. Registros militares davam conta de um sem números de faltosos por ocasião da chamada para o engajamento final. O procedimento é assim descrito pelo jornal Diário de Notícias.

"Nos primeiros tempos, o capelão rezava uma missa campal, que depois caiu em desuso; o comandante da unidade mobilizadora, um coronel, proferia umas palavras alusivas à missão e entregava o guião ao comandante do batalhão mobilizado, um tenente-coronel, ou então da companhia, um capitão; (...) era concedida a licença de dez dias antes de embarque e pagas as ajudas de custo.
Neste momento, o militar era um mobilizado, ia a casa, despedia-se da família, fazia umas asneiras por conta, arranjava umas correspondentes para lhe escreverem, ou umas madrinhas de guerra e voltava à unidade mobilizadora para daí iniciar verdadeiramente a viagem.

Neste regresso faltavam uns quantos camaradas, que tinham decidido dar o salto para o estrangeiro ou baixado ao hospital com uma doença mesmo a calhar, mas os que restavam formavam de novo na parada do quartel..." (Jornal Diário de Notícias- Fasc. 5 pág. 50)
Para aqueles que iam sendo embarcados a viagem não é de busca, nem de aventura, tampouco trata da questão de conhecimento ou de experiências novas que se buscam por iniciativas próprias. São seres humanos que não entendem por devem ir matar outros de sua espécie em prol de um poder político que não lhes dizia respeito nem sequer o exerciam.

"Por volta do meio-dia, o navio recolhia as escadas e os cabos, a sirena apitava e, durante alguns anos, a instalação sonora tocava uma marcha intitulada ‘Angola é nossa’, independentemente do destino – um ritual abandonado nos anos mais próximos do fim da guerra.
O navio afastava-se lentamente, virava a proa à foz do Tejo, passava por baixo da ponte e deslizava diante da Torre de Belém" (J D.N. pág.5l)O mar: estrada líquida pela qual Portugal alcançou a notoriedade em função da rota de suas caravelas, é, neste caso, símbolo de agruras para a soldadesca em cujo destino preferem não pensar. Os pioneiros navegantes contemplaram suas águas salgadas com outros olhos, com espanto e admiração. Estes, que vão rumo aos Cus de Judas, quase não o reparam e, se o fazem, o maldizem.

Para o soldado português combatente na guerra colonial na obra de Antunes tanto a cidade como o mar são visto como símbolos negativos.

Cidade colonial pretensiosa e suja de que nunca gostei, gordura de umidade e calor, detesto as tuas ruas sem destino, o teu Atlântico domesticado de barrela (...) O meu país, Ruy Belo, é o que o mar não quer (Os cus de Judas, pág. 68)

Para a personagem de Antunes, a água do mar de Luanda ‘assemelhava-se a creme solar turvo’ (pág.19), e eles (soldados), não passavam de ‘peixes mudos em aquários (pág.86), ratificando a simbologia do mar que já constatara na poesia Melo e Castro.

Após a chegada dos portugueses(...) o mar passa a ser, não só a via da invasão européia portadora da descaracterização cultural, mas também, a via da partida, da ruína e da morte causadas pela captura e venda dos escravos, pela emigração forçada e pelo drama dos contratados. Mar, espaço da morte, de onde se não volta mais.( págs. 11-16)

Lobo Antunes tece um discurso que nos deixa pistas sobre a desconstrução da viagem no contexto colonial português, que se revelará em outras obras como As Naus. Neste cenário o encontro com a situação de guerra vai expor as feridas que ainda ecoam no contato entre colonizador e colonizado.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

"Pergunte às pessoas o que querem da vida, a resposta é simples… 
Ser feliz.
Talvez seja essa expectativa. Querer ser feliz… que nos impede de sermos felizes.
Talvez quanto mais tentamos estar em estado de alegria, mais confusos ficamos. 
Até não nos reconhecermos mais. Ao invés disso, continuamos sorrindo, 
tentando ser a pessoa feliz que queríamos ser. 
Até que cai a ficha, sempre esteve lá… 
não em nossos sonhos e esperanças, mas no conhecido, o confortável, o familiar."






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