A obra apresenta uma
seleção de contos de importantes autores brasileiros do século XX, surgidos
depois da chamada fase histórica do
Modernismo (1922-1945). Dos escritores escolhidos, alguns se destacam sobretudo
ou exclusivamente como contistas, como Dalton Trevisan, João Antônio, Luiz
Vilela, Marina Colasanti, Murilo Rubião, Ricardo Ramos. Os
demais, além de
contos, têm uma importante produção na área do romance. Os contos desta
coletânea apresentam histórias do nosso
tempo. Focalizam relações familiares, desnudam conflitos sociais e psicológicos, mergulham no interior do
ser humano, revelam o absurdo da vida,
introduzem o fantástico no cotidiano. Mestres na arte de condensar em
poucas páginas uma situação interessante
ou um drama humano, os contistas aqui
reunidos conduzem o leitor pelas veredas
da literatura, mostrando-lhe diferentes formas de representação artística da
vida.
AUTORES E CONTOS
1 – Clarice Lispector
(1920-1977) De origem judaica, terceira filha de
Pinkouss e de Mania Lispector. A família de Clarice sofreu a perseguição aos judeus, durante a Guerra Civil Russa de
1918-1921. Seu nascimento ocorreu em Chechelnyk, enquanto percorriam várias
aldeias da Ucrânia, antes da viagem de imigração ao continente americano.
Chegou no Brasil quando tinha dois meses de idade. Sempre quando questionada de
sua nacionalidade, Clarice afirmava não ter nenhuma ligação com a Ucrânia,
“Naquela terra eu literalmente nunca pisei: fui carregada de colo”, e que sua
verdadeira pátria era o Brasil. A fama de Clarice Lispector se refletiu através
da maestria de revelar as transformações dos sujeitos de modo profundo, denso,
transcendente, epifânico. Suas obras colocam à mostra os grandes conflitos do
ser humano, explorando com muita sutileza as regiões mais profundas e
inexprimíveis da alma, aliando razão e sensibilidade por meio de uma linguagem
extremamente poética. Clarice tenta desvendar o mundo, em sua literatura,
através do olhar voltado para si mesma- descobrindo-se para descobrir “o
outro”. Durante sua vida Clarice teve diversos amigos de destaque como Fernando
Sabino, Lúcio Cardoso, Rubem Braga, San Tiago Dantas e Samuel Wainer, entre
diversos outros literários e personalidades.
Feliz Aniversário
Postada à cabeceira da mesa, a senhora, que completa 89 anos, assiste a
chegada de seus filhos e noras. Um a um vão sentando-se ao redor da mesa para a
comemoração. A velha senhora, ressentida com a fraqueza de seus filhos, reflete
na razão pela qual “os frutos foram tão diferentes árvore que os engendrou”. O
único que lhe dá prazer é Rodrigo, neto de sete anos, de rosto viril e
corajoso. Depois de cantarem “Feliz Aniversário”, aumenta a indignação da
aniversariante, que cospe ao lado da mesa, afrontando a todos, depois do que pede
um copo de vinho, servido com ressalvas pela nora Dorothy: “Vovozinha, não vai
lhe fazer mal?” - “Que vovozinha que nada! Que o diabo vos carregue, corja de
maricas, cornos e vagabundas! Explode a aniversariante.” À hora das despedidas,
a nora mais nova, Cordélia, olha uma última vez para a sogra, sentada à
cabeceira: “o punho mudo e severo, fechado sobre a mesa, dizia para a infeliz
nora que sem remédio amava talvez pela última vez: É preciso que se saiba. É
preciso que se saiba. Que a vida é curta. Que a vida é curta.” Superado o
momento das despedidas, resta a velha, “erecta, definitiva”, à cabeceira da
mesa. “A morte era seu mistério”. O caráter epifânico é uma das marcas registradas de Clarice Lispector. Em
todos os seus relatos, os personagens vivenciam experiências que os despertam
para determinadas verdades como que encobertas por um véu de mediocridade. A
situação vivenciada por Dorothy em uma fração de segundo teve esse caráter. A
atitude após a descoberta é que permanece uma incógnita. Desvendando toda a
hipocrisia que permeia as relações familiares, a autora também põe em relevo a
situação na qual se encontra a aniversariante. Praticamente abandonada por
todos os filhos, que reúnem-se em sua casa a cada aniversário, vivendo com
Zilda, a filha solteira, espera a morte, inconformada com este tratamento.
Narrador: 3° pessoa, onisciente.
Tempo: Cronológico
Espaço: Apartamento de Zilda, filha da aniversariante.
Tempo: Cronológico
Espaço: Apartamento de Zilda, filha da aniversariante.
2 - Dalton Trevisan (1925 - ) Dalton Trevisan nasceu em Curitiba PR, em 14 de junho de 1925. Formado pela Faculdade de Direito do Paraná, liderou em Curitiba o grupo literário que publicou, em 1946, a revista Joaquim (em homenagem a todos os Joaquins do Brasil). A publicação, que circulou até dezembro de 1948, continha o material de seus primeiros livros de ficção, entre os quais Sonata ao luar (1945) e Sete anos de pastor (1948). Em 1954, publicou Guia histórico de Curitiba, Crônicas da província de Curitiba, O dia de Marcos e Os domingos ou Ao armazém do Lucas, edições populares à maneira dos folhetos de feira. A partir da gente de sua cidade, chegou a uma galeria de personagens e situações de significado universal, em que as tramas psicológicas e os costumes são agudamente recriados por meio de uma linguagem precisa e de sabor genuinamente popular, que valoriza os mínimos incidentes de um dia-a-dia sofrido e angustioso. Publicou também Novelas nada exemplares (1959), Morte na praça (1964), Cemitério de elefantes (1964) e O vampiro de Curitiba (1965). Isolado dos meios intelectuais, Trevisan obteve, sob pseudônimo, o primeiro lugar do I Concurso Nacional de Contos do estado do Paraná, em 1968. Escreveu depois A guerra conjugal (1969), Crimes da paixão (1978) e Lincha tarado (1980). Em 1994, publicou Ah é?, obra-prima de seu estilo minimalista. Além de escrever, Trevisan exerce a advocacia e é proprietário de uma fábrica de vidros. As histórias de Dalton Trevisan, um dos melhores contistas brasileiros contemporâneos, reproduzem um cotidiano angustioso numa linguagem direta e popular.
Maria mora com a mãe,
dona Candinha, que começa a implicar com a presença de um hóspede: João. Ao
descobrir os dois aos beijos no sofá, e sendo informada que João é noivo da
filha, pressiona a filha para mandá-lo embora. Assustado com a situação, João
vai-se embora, e as brigas entre mãe e filha põem dona Candinha doente. Sob os
cuidados da filha, sente-se bem, mas continua de cama, gostando do tratamento
que está recebendo.
Com o passar dos dias, Maria decide internar a mãe no Asilo Nossa Sra. da Luz, entre doidos, epiléticos e alcoólatras, no qual um sistema de alto-falantes (o dr. Alô) ameaça com choques e injeções na espinha a quem reclamar. “D. Candinha sustentava-se a chá de mate e biscoito duro”. Ressentida com o tratamento que a filha que criara lhe devota, a velha, internada no asilo, vê os dias passarem tratando uma mosca grande que, afeiçoada a ela, vem alimentar-se sobre sua mão. Daton Trevisan consegue captar o poético a partir de textos extremamente objetivos. Dona Candinha, abandonada pela filha, encontra consolo em uma última companheira: a mosca. É importante perceber que a atmosfera construída pelo autor resgata o lirismo a partir de um final absolutamente insólito.
Estética: Texto escrito em prosa, de frases curtas, e marcado pela fala dos personagens. É uma narração simples e com palavras bastantes regionais, como ‘’broinha de fubá mimoso’’ ou ‘’melindrosa’’.
Com o passar dos dias, Maria decide internar a mãe no Asilo Nossa Sra. da Luz, entre doidos, epiléticos e alcoólatras, no qual um sistema de alto-falantes (o dr. Alô) ameaça com choques e injeções na espinha a quem reclamar. “D. Candinha sustentava-se a chá de mate e biscoito duro”. Ressentida com o tratamento que a filha que criara lhe devota, a velha, internada no asilo, vê os dias passarem tratando uma mosca grande que, afeiçoada a ela, vem alimentar-se sobre sua mão. Daton Trevisan consegue captar o poético a partir de textos extremamente objetivos. Dona Candinha, abandonada pela filha, encontra consolo em uma última companheira: a mosca. É importante perceber que a atmosfera construída pelo autor resgata o lirismo a partir de um final absolutamente insólito.
Estética: Texto escrito em prosa, de frases curtas, e marcado pela fala dos personagens. É uma narração simples e com palavras bastantes regionais, como ‘’broinha de fubá mimoso’’ ou ‘’melindrosa’’.
Elementos Narrativos:
Narrador: Narrador
observador, não estando presente no conto.
Tempo: O tempo é
curto e, por ser formado basicamente por pequenas falas, o conto dá a idéia de
uma sequência rápida dos acontecimentos, o que acarreta o leitor estar sempre
ligado nos acontecimentos da narrativa.Espaço: A historia acontece primeiramente na casa de Dona Candinha mas logo depois se passa em seu quarto e termina na clinica de repouso ou asilo, no qual a senhora ficou internada.
Personagens: Dona Candinha, sua filha Maria e o noivo de Maria, João.
“O grande enfoque da
obra de Loyola está representado pelo confinamento do homem na cidade.”O autor, criador
corajoso de estruturas não-convencionais, aborda o tema de vária formas
diferentes, em seu estilo direto de jornalista atento ao seu tempo.
Os Músculos
Em uma manhã de
domingo, ao passar o rastelo pelo terreno reduzido de sua horta de 4 metros quadrados,
Danilo depara com um arame de fio de aço inoxidável entranhado na terra.
Surpreso, escava e não encontra a origem da estranha “planta”. Aos poucos o
arame cresce e toma conta de toda a horta, e a plantação de arame produz o
suficiente para cercar casas, cidades e o país. Acossado por acusações de
vizinhos, perseguido por processos movidos por grandes casas do ramo, que o
acusam de não recolher impostos pela produção de arame, que continua a crescer
em seu quintal, o homem abre uma brecha por entre a floresta de arame buscando
refúgio. Ninguém teria coragem de penetrar ali para buscá-lo, e ele se dá conta
que os reflexos do sol reluzindo sobre os fios de arame formam desenhos
inusitados; o vento soprando, produz sons agradáveis, agradáveis o suficiente
para embalá-lo. Sob o jugo da vida na cidade, os personagens das obras de
Inácio de Loyola Brandão sujeitam-se ao isolamento que esta vida lhes impõem.
Entretanto, no auge do desespero, surge uma saída: adentrar à “floresta de
arame”, e tentar discernir o belo mesmo naquelas condições. Apercebendo-se dos
desenhos e da música que o sol e o vento produzem, o personagem também encontra
um refúgio para a vida opressiva que lhe é imposta.
Narrador: 3ª pessoa
Tempo: cronológicoPersonagem: Danilo - trava uma árdua luta contra os “arames” que crescem inexplicavelmente em seu quintal.Acaba dando-se por vencido.
4 – João Antônio ( 1937 – 1996) Além de jornalista, é considerado um
intérprete do submundo e um bom malandro da escrita e da literatura. Sua
linguagem rápida, suas frases curtas, lhe deram o título de criação do conto
reportagem. Suas obras retratam pessoas marginalizadas, o proletariado,
prostitutas e as figuras da periferia das grandes metrópoles.
Guardador
Jacarandá tenta ganhar a vida como guardador de carros. Mora (ou se esconde) no oco do tronco de uma árvore. Às vezes, bebendo, começa a pensar sobre os tipos de pessoas que dão esmola. São três: o primeiro - uns poucos - dá por entender o “misere”; o segundo, para ver-se livre do pedinte; o terceiro tipo, “otários de classe média”, dá esmola para não parecer “duro” - “Para eles, não ter cai mal”. Domingo, saída de missa , ele pensa nos dois tipos de piedade: o de dentro e o de fora da igreja; “por quê resistem ao pagamento da gorjeta?”. Volta e meia Jacarandá é preso. Umas duas semanas de cadeia, desintoxicado, volta ao trabalho. Agora é outro. Movimentos rápidos, o corpo magro, lembra o corpo do jovem passista que ele foi.. Mas não passa-se uma semana e ele volta à cachaça. Certa noite, “um bacana enternado, banhado de novo” lhe estende uma moeda. Altaneiro no seu porre, Jacarandá recusa: “trabalho com dinheiro; com esse produto não, doutor.” O carro sai cantando pneus, “Xará, eu ganho mais que ele. É que não saio do botequim”. Dedicando-se ao submundo daqueles que não têm nenhuma perspectiva, João Antônio desvenda a personalidade de uma figura deste ambiente. Jacarandá, o bêbado guardador de carros, consegue perceber as razões pelas quais os que lhe dão gorjetas o fazem. Não há espaço para ilusões neste mundo, mas o personagem principal encontra uma maneira de rebelar-se: o tratamento que dirige ao motorista nos sugere um homem que, mesmo em situação crítica, procura manter a dignidade.
Há que se perceber também o trabalho de linguagem. A gíria do guardador é utilizada ao longo do texto, em expressões como “uca, pé-de-cana, muquiras, chué”, que sugerem uma distância intransponível entre o guardador e aqueles a quem cobra seus serviços.
Jacarandá tenta ganhar a vida como guardador de carros. Mora (ou se esconde) no oco do tronco de uma árvore. Às vezes, bebendo, começa a pensar sobre os tipos de pessoas que dão esmola. São três: o primeiro - uns poucos - dá por entender o “misere”; o segundo, para ver-se livre do pedinte; o terceiro tipo, “otários de classe média”, dá esmola para não parecer “duro” - “Para eles, não ter cai mal”. Domingo, saída de missa , ele pensa nos dois tipos de piedade: o de dentro e o de fora da igreja; “por quê resistem ao pagamento da gorjeta?”. Volta e meia Jacarandá é preso. Umas duas semanas de cadeia, desintoxicado, volta ao trabalho. Agora é outro. Movimentos rápidos, o corpo magro, lembra o corpo do jovem passista que ele foi.. Mas não passa-se uma semana e ele volta à cachaça. Certa noite, “um bacana enternado, banhado de novo” lhe estende uma moeda. Altaneiro no seu porre, Jacarandá recusa: “trabalho com dinheiro; com esse produto não, doutor.” O carro sai cantando pneus, “Xará, eu ganho mais que ele. É que não saio do botequim”. Dedicando-se ao submundo daqueles que não têm nenhuma perspectiva, João Antônio desvenda a personalidade de uma figura deste ambiente. Jacarandá, o bêbado guardador de carros, consegue perceber as razões pelas quais os que lhe dão gorjetas o fazem. Não há espaço para ilusões neste mundo, mas o personagem principal encontra uma maneira de rebelar-se: o tratamento que dirige ao motorista nos sugere um homem que, mesmo em situação crítica, procura manter a dignidade.
Há que se perceber também o trabalho de linguagem. A gíria do guardador é utilizada ao longo do texto, em expressões como “uca, pé-de-cana, muquiras, chué”, que sugerem uma distância intransponível entre o guardador e aqueles a quem cobra seus serviços.
Narrador: 3ª pessoa
Tempo: cronológicoPersonagem: Jacarandá, o bêbado guardador de carros.
A Caçada
Em uma
loja de antiguidades, um homem encontra uma grande tapeçaria, suspensa sobre a
parede. Admirado, tenta lembrar-se de onde, ou em que tempo, já havia assistido
àquela cena: um caçador de arco retesado, apontando para uma touceira espessa;
outro caçador, este uma figura mais apagada, também espreitava a caça. “Teria
sido uma personagem da tapeçaria? Mas qual? O caçador em primeiro plano? O
outro?” Tão viva é a gravura, que ele pressente o arquejar da caça escondida.
Talvez tivesse sido o pintor da tapeçaria, “mas se detesto caçadas! Por quê
tenho de estar aí dentro?” Saindo da loja, a imagem não desaparece. Ao dormir,
sonha com a tapeçaria, ele entrelaçado à paisagem. Apalpa o rosto, procurando a
barba do primeiro caçador, mas ao invés disso, sente a viscosidade do sangue, e
acorda com um grito. Na manhã seguinte, volta à loja. Ao defrontar-se com a
tapeçaria, vê a loja sumindo e a tapeçaria se alastrando pelo chão, até tomá-lo
por inteiro. Agora estava dentro da tapeçaria. Era importante correr. Era a
caça? O caçador? “Gritou e mergulhou em uma touceira. Ouviu o assovio da seta
varando a folhagem, a dor! “Não ... - gemeu de joelhos. Tentou ainda agarrar-se
à tapeçaria. E rolou encolhido, as mãos apertando o coração”. Lygia Fagundes
Teles é uma contista que prima por trabalhar o aspecto psicológico em suas
obras. A angústia do personagem criado pela autora pode ser interpretada como a
angústia despertada pela busca de si mesmo, processo que pode fazer com que o
homem passe da situação de caça à de caçador em um instante.
Narrador:
3ª pessoa
Tempo: O tempo da
história abrange um período de dois dias. No primeiro dia, o homem vai à loja
de antigüidades.
6 - Luiz Vilela (1942 - ) Morou em São Paulo, onde foi jornalista do Jornal
da Tarde,passando a publicar seus trabalhos literários. Correu o mundo,
viajou pela Europa, foi convidado a lecionar nos Estados Unidos e para ser
jurado do Prêmio Casa de las Américas, em Cuba. Já há vários estudos sobre suas
obras nas universidades brasileiras, com alguns trabalhos também no exterior.
É considerado um dos
melhores contistas da atualidade, e depois de alguns períodos morando
em São Paulo,
nos EUA e
na Espanha, vive atualmente
em sua cidade natal. Característica marcante no estilo de Luiz Vilela é a arte
difícil de expressar com economia de palavras o que transita entre as pessoas,
atrás do óbvio, do aparente. Segue a tendência mineira de evitar excessos.
Cria, em atmosferas densas, situações em que o leitor recebe através de um
código sutil. As palavras como um gesto leve, quase um olhar, brotam
espontâneas.
Luz Sob a Porta
Nélson
está com alguns amigos bebendo chopp em uma festa. Preocupado com as horas,
decide ir-se. É o aniversário de sua mãe e já são onze e vinte. É com muita
dificuldade que à consegue desvencilhar-se dos amigos, e ao chegar a casa de sua
mãe já são cinco para a meia-noite. “Havia luz sob a porta, ela estava
esperando-o”. A recepção é triste. A mãe reclama da idade e do esquecimento a
que foi relegada. Fala-lhe do medo que tinha que ele não viesse. Desculpando-se
por não haver trazido um presente, Nélson consola a mãe que chora. Todo o conto
é desenvolvido através de diálogos. A economia do autor é expressa de forma a
criar situações nas quais o diálogo seja suficiente para evocar o almejado.
Assim, à futilidade dos diálogos entre os amigos do bar ( “Imaginem só: me deu
a maior cantada!” - Kafka? Estou lendo. O processo.”) sobrepõe-se a densidade
do diálogo entre mãe e filho ( “Quer dizer que a senhora passou o dia sozinha?”
- “Passei, mas não teve importância; arrumei uma costurinha pra fazer.”). Ao
mesmo tempo que explicita a dramaticidade do relato, esta estratégia também
coloca o trabalho com a linguagem em um plano privilegiado.
Narrador: observador, em 3ª pessoa, não participa da
história.
Tempo: O tempo é curto e cronológico. Espaço: A história se passa na casa de amigos (Maria) e na casa da mãe do protagonista (Nélson).
Personagens: Nélson, amigos de Nélson (Toninho, Guido, Maria) e a mãe de Nélson.
A Moça tecelã
Com o passar do tempo, sentindo-se sozinha, pensa que seria bom ter um marido a seu lado. “Com capricho de quem tenta uma coisa desconhecida” ela vai tecendo sua companhia. Ao fim do trabalho, batem a sua porta: “Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando na sua vida”.
Aos poucos, a moça vai tecendo a casa, que não basta ao marido. Ele agora quer um palácio, que toma meses de trabalho da tecelã. Na torre mais alta deste palácio fica a moça trabalhando, e com o passar do tempo, sente-se sozinha, tecendo as riquezas que o marido exige. Uma noite, enquanto o marido dorme, ela levanta-se e desmancha todo o tapete, tornando a sua solidão. Note-se que a autora coloca nas mãos da moça tecelã o poder de começar e romper a relação. É ela que “tece” o marido e engendra o meio familiar. Mas também é ela que “tece a própria solidão”. Tendo o universo feminino como fonte, Marina Colasanti desvela a alma da mulher que prefere, a uma relação que a subjuga, a antiga solidão.
Narrador: 3ª pessoa
Espaço: Casa da moça tecelã, onde
ela borda.Tempo: O tempo não é cronológico, é psicológico, onde a moça observa dias de sol, dias de chuva, noite...
Personagens: Moça tecelã: uma moça que possui uma vida monótona que, a princípio, contenta-se com o fato de estar o tempo inteiro tecendo. Podem-se observar também suas preferências pelas coisas simples e pela natureza.
Marido: foi imaginado e tecido pela moça tecelã, que o criou para ser seu esposo e para lhe fazer companhia num dado momento da vida em que se sentia sozinha. Suas principais características são o apego às coisas materiais e a obsessão por luxo e conforto, o oposto da protagonista do conto.
8 - Moacyr Scliar ( 1937 – 2011) . Formado em medicina, trabalhou como médico especialista em saúde pública e professor universitário. Sua prolífica obra consiste de crônicas, contos, romances, ensaios e literatura infanto- juvenil. Seu estilo leve e irônico lhe garantiu um público bastante amplo de leitores, e em 2003 foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, tendo recebido antes uma grande quantidade de prêmios literários como o Jabuti (1988, 1993 e 2009), o Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) (1989) e o Casa de las Américas (1989). Suas obras frequentemente abordam a imigração judaica no Brasil, mas também tratam de temas como o socialismo, a medicina (área de sua formação), a vida de classe média e vários outros assuntos. O autor já teve obras suas traduzidas para doze idiomas.
Narrador: personagem.
Espaço: O espaço privilegiado no conto é o
condomínio, mas este não é o único lugar onde acontecem os fatos narrados.Tempo: Cronológico ou linear, visto que os acontecimentos ocorrem numa sucessão de fatos ordenados em uma ordem lógica e cronológica.
Personagens: As personagens são identificadas sem uma definição especifica, mas algumas características são ditas ao longo do conto
Narrador: recentemente promovido no trabalho, mudou-se para o Retiro da Figueira em busca de segurança, mas desde o inicio achou que havia algo errado com o lugar, pois era muito perfeito.
Mulher: assustada com a onda de violência no seu bairro, decide que devem se mudar. Encanta-se pelo Recanto por esse possuir um forte sistema de segurança.
Filhos: citados apenas para ressaltar o poder de atração exercido pelo Recanto sobre os visitantes.
Chefe dos guardas: formado em direito, é inteligente e conquista rapidamente a confiança e respeito de todos devido sua simpatia e educação.
9 - Murilo
Rubião ( 1916 – 1991) Nasceu em Carmo de
Minas. Fez seus primeiros estudos em Conceição do Rio Verde e conclui-os depois
em Belo Horizonte. Ingressou na Faculdade de Direito, formando-se em 1942. O
jornalismo sempre o seduziu, tornou-se redator da Folha de Minas e diretor da
Rádio Inconfidência. Em 1947, lançou seu primeiro livro de contos, O ex-mágico,
que não teve maior repercussão na época. A partir de então, ingressou no mundo
da política, sempre como assessor. Em 1951, ocupou a função de chefe de
gabinete do governador Juscelino Kubitschek. Entre 1956 e 1961, exerceu o cargo
de adido cultural do Brasil na Espanha. Em 1966 foi designado para organizar o
Suplemento Literário do Diário Oficial Minas Gerais, que se tornou um dos
melhores órgãos de imprensa cultural já surgidos no país. A
obra de Murilo Rubião, um dos maiores representantes da Literatura Fantástica
brasileira, é permeada por um toque religioso claramente perceptível aos olhos
do leitor, que sempre se depara com uma epígrafe bíblica no início de cada
conto. Como afirma Schwartz (1983), a religiosidade aflora veementemente no
conto Botão-de-Rosa, publicado
na obra “O convidado”, que também é um belo modelo de texto literário crítico e
fantástico.
Botão-de Rosa
À acusação de sevícia, soma-se a de tráfico de entorpecentes, e Botão-de-Rosa continua impassível, enquanto José Inácio, pressionado pelo povo da cidade, tem uma atuação medíocre na defesa, o que colabora para a sentença de morte do acusado. A produção de Murilo Rubião caracteriza-se pela exploração de um recurso desenvolvido por diversos autores latino-americanos: o Realismo-Mágico. Botão-de-Rosa abre mão da oportunidade de defender-se por saber-se condenado de antemão. Sua situação marginal (músico em uma cidade pequena) é que sofre a condenação. A atitude adotada pelo advogado José Inácio cristaliza esta situação. Sua atuação é medíocre por que entre indispor-se com as autoridades comprometendo seu futuro e permitir a condenação do músico, escolhe a segunda alternativa.
Narrador: onisciente (3ª pessoa)
Personagens: Botão-de-rosa, José Inácio (o advogado), o delegado e os membros do tribunal;
10 - Osman Lins ( 1924 – 1978) foi um escritor brasileiro. Natural de Pernambuco, é autor de contos, romances, narrativas, livro de
viagens e peças de teatro. Lisbela e o Prisioneiro (1964) virou especial na
rede Globo, com os atores Diogo Vilela e Giulia Gam, sendo depois adaptado por
Guel Arraes para o cinema, com Selton Mello e Débora Falabella. Renovador de
estrutura, linguagem, temas e conceitos literários, Osman Lins, de forma muito
particular , trabalha com o tempo, os sons, o espaço e o foco narrativo.
Noivado
A narrativa Noivado descreve a relação longa e infeliz entre Giselda e Mendonça, noivos há vinte e oito anos, que toca em questões familiares ao homem moderno, como a alienação e o isolamento humanos. Sendo o Mendonça um burocrata recém-aposentado que, dias antes de deixar a repartição publica, se depara com o primeiro problema “mais ou menos vivo” em 30 anos de carreira: uma invasão de insetos, que vêm não se sabe de onde vem e rompem a vidraça do prédio. Giselda é a velha que guarda o romantismo da juventude e a esperança de que o rompimento do noivado signifique, enfim, seu resgate. O “noivado” entre os personagens pode ser lido como metáfora de um noivado do próprio homem com seu destino, como um espaço de tempo no qual buscamos nos fazer a nós mesmos
A narrativa Noivado descreve a relação longa e infeliz entre Giselda e Mendonça, noivos há vinte e oito anos, que toca em questões familiares ao homem moderno, como a alienação e o isolamento humanos. Sendo o Mendonça um burocrata recém-aposentado que, dias antes de deixar a repartição publica, se depara com o primeiro problema “mais ou menos vivo” em 30 anos de carreira: uma invasão de insetos, que vêm não se sabe de onde vem e rompem a vidraça do prédio. Giselda é a velha que guarda o romantismo da juventude e a esperança de que o rompimento do noivado signifique, enfim, seu resgate. O “noivado” entre os personagens pode ser lido como metáfora de um noivado do próprio homem com seu destino, como um espaço de tempo no qual buscamos nos fazer a nós mesmos
Narrador: narrador-personagem;
Tempo: Cronológico
Personagens: Mendonça e Giselda;
Tempo: Cronológico
Personagens: Mendonça e Giselda;
11 - Ricardo Ramos ( 1929 – 1992) nasceu em Palmeira dos
Índios, em 1929, ano em que o pai Graciliano Ramos exercia a função de
prefeito. Formado em Direito, destacou-se como homem da propaganda, professor
de comunicação, jornalista e escritor em São Paulo. Sua obra literária é
extensa: contos, romances e novelas, e representa,
com destaque, a prosa contemporânea da literatura brasileira. O autor
ressaltava a importância de ser íntimo do personagem, de conhecer a sua
verdade. Considerava que era apenas um intérprete da vida que vivia e do mundo
que compreendia - inventava um pouco, mas com base na realidade. As referências
pré-conscientes da conduta cotidiana constituem a fonte para elaboração dos
seus textos literários. Os contos da obra
Circuito Fechado surpreendem desde o primeiro, quando a narrativa é composta
somente por substantivos e retratam, sem a presença de sujeitos, ações ou
adjetivos, fielmente o cotidiano.
Circuito
Fechado
Circuito Fechado - 1 : Trabalhando exclusivamente com substantivos
(Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água.) Ricardo Ramos foca o despertar
do homem no ambiente urbano completamente tomado pela rotina. Preso ao relógio,
este homem não consegue romper o circuito, que fecha-se com a volta aos
chinelos: (Chinelo. Coberta, cama travesseiro.)
Circuito Fechado – 2: Fechado em sua “memória intermediária”
(“não a de muito longe, nem a de ontem”), o personagem sente o desbotar que
ocorre com o passar dos anos refletido no retrato. Vem dessa memória
intermediária a sensação de perda. “Os dias, não as noites, são o que mais
ficou perdido”.)
Circuito Fechado – 3: Em um monólogo apressado, no qual inferimos
respostas monossilábicas de diversos interlocutores, o autor expõe o isolamento
ao qual o personagem vai se sujeitando, na medida que aumenta sua
insensibilidade. Tudo nos sugere uma distância intransponível, e os diálogos
impessoais mantidos com secretárias e atendentes, repete-se com a esposa:
“Vamos dormir? É, leia que é bom. Ainda agosto e esse calor. Me acorde cedo
amanhã, viu?”.
Circuito Fechado – 4: Tematizando o sentimento de posse (“Ter,
haver”) o autor demonstra como este sentimento de posse apropria-se do
personagem, e como este, objeto dessa sensação, torna-se incapaz de fugir ao
círculo vicioso. “Uma prisão que segura” e ao mesmo tempo evoca as diversas
lembranças de infância, na qual não havia este tipo de preocupação.
Circuito Fechado – 5: Retornando à rotina evocada em Circuito
Fechado - 1 - , o autor condensa o sentimento de impotência expresso nos outros
episódios. Perceba-se o caráter pessimista desde o começo do texto, iniciado
com uma negativa, “Não. Não foi o belo” . Aos poucos, aprofundando-se em muitas
outras negativas, o texto nos suscita a sensação da perda absoluta de
concretude, de inversão total de valores, culminando com a constatação do erro
de avaliação na inversão desses valores: “Não foi sempre, nem faltou, foi mais
às vezes. Não foi o que, foi como e onde, e quando. Não, não foi.
Narrador: Todos os tipos de narrador
adequam-se.
Espaço: Casa, trabalho e restaurante.
Tempo: A estória toda acontece no intervalo de um dia, seguindo uma ordem cronológica de fatos.
Personagens: A única personagem do conto é um homem comum, cuja maior marca é a rotina constante e imutável.
Espaço: Casa, trabalho e restaurante.
Tempo: A estória toda acontece no intervalo de um dia, seguindo uma ordem cronológica de fatos.
Personagens: A única personagem do conto é um homem comum, cuja maior marca é a rotina constante e imutável.
12 - Sérgio Sant’Anna
( 1941 - ) Nasceu no Rio de Janeiro, em 1941. Iniciou sua
carreira de escritor em 1969, com os contos de O
sobrevivente, livro que o levou a participar do International
Writing Program da Universidade de Iowa, nos Estados Unidos. Teve obras
traduzidas para o alemão e o italiano e adaptadas para o cinema.. Recebeu
quatro vezes o prêmio Jabuti, a mais recente pelos contos de O
voo da madrugada (2003),
que recebeu também o prêmio APCA e o segundo lugar no prêmio Portugal Telecom
de literatura. Às vezes lembra Picasso: objetos desarrumados. Seu estilo é feito do moderno, do trágico, do
inesperado.
Composição II
Tempo: Psicológico
Narrador: ObservadorEspaço: Se passa em uma casa qualquer
13 - Sílvio Fiorani ( 1943 - ) Nasceu em São Paulo. Mestre em criar situações estranhas, apresentando-as como muito naturais, Fiorani diversifica seus temas entre o cotidiano mágico e a saga de imigrantes italianos, seus ancestrais, o que tece com severidade e grandeza.
Narrador: Narrador observador.
Espaço: Casa da Su.Tempo: O tempo é cronológico, no qual ela sonha, acorda...
Personagens: Su: uma secretária que possui uma vida corrida, devido aos diversos afazeres destinados a ela no trabalho. Mãe de Su: uma dona de casa.
TEMAS: análise psicológica
conflito moral
fantástico
relações familiares
mistério
crítica social