domingo, 2 de setembro de 2012

UFRN 2013 - CAPITÃES DA AREIA


CAPITÃES DA AREIA

Jorge Amado

“Apenas um baiano romântico e

sensual”

AUTOR: Jorge Amado nasceu na fazenda Auricídia, em Ferradas, município de Itabuna. Filho do "coronel" João Amado de Faria e de Eulália Leal Amado, foi com apenas um ano para Ilhéus, onde passou a infância. Mudou-se para Salvador, onde passou a adolescência e entrou em contato com muitos dos tipos populares que marcaria sua obra. Aos 14 anos, começou a participar da vida literária de Salvador, sendo um dos fundadores da Academia dos Rebeldes, grupo de jovens que (juntamente com os do Arco & Flecha e do Samba) desempenhou importante papel na renovação das letras baianas. Entre 1927 e 1929, foi repórter no "Diário da Bahia", época em que também escreveu na revista literária "A Luva".
Estreou na literatura em 1930, com a publicação (por uma editora carioca) da novela "Lenita", escrita em colaboração com Dias da Costa e Édison Carneiro. Seus primeiros romances foram "O País do Carnaval" (1931), "Cacau" (1933) e "Suor" (1934). Jorge Amado bacharelou-se em ciências jurídicas e sociais na Faculdade de Direito no Rio de Janeiro (1935), mas nunca exerceu a profissão de advogado. Em 1939, foi redator-chefe da revista "Dom Casmurro". De 1935 a 1944, escreveu os romances "Jubiabá", "Mar Morto", "Capitães da Areia", "Terras do Sem-Fim" e "São Jorge dos Ilhéus".
Em parte devido ao exílio no regime getulista, Jorge Amado viajou pelo mundo e viveu na Argentina e no Uruguai (1941-2) e, depois, em Paris (1948-50) e em Praga (1951-2). Voltando para o Brasil durante a Segunda Guerra Mundial, redigiu a seção "Hora da Guerra", no jornal "O Imparcial" (1943-4). Mudando-se para São Paulo, dirigiu o diário "Hoje" (1945). Anos depois, no Rio, participou da direção do semanário "Para Todos" (1956-8). Em 1945, foi eleito deputado federal pelo Partido Comunista Brasileiro, por São Paulo, tendo participado da Assembléia Constituinte de 1946 e da primeira Câmara Federal posterior ao Estado Novo. Nessa condição, foi responsável por várias leis que beneficiaram a cultura. De 1946 a 1958, escreveu "Seara Vermelha", "Os Subterrâneos da Liberdade" e "Gabriela, Cravo e Canela". Em abril de 1961, foi eleito para a cadeira número 23 da Academia Brasileira de Letras (sucedendo Otávio Mangabeira). Na década de 1960, lançou as obras "Os Velhos Marinheiros" (que compreende duas novelas, das quais a mais famosa é "A morte e a morte de Quincas Berro d'Água"), "Os Pastores da Noite", "Dona Flor e Seus Dois Maridos" e "Tenda dos milagres". Nos anos 1970, vieram "Teresa Batista Cansada de Guerra", "Tieta do Agreste" e "Farda, Fardão, Camisola de Dormir". Suas obras foram traduzidas para 48 idiomas. Muitas se viram adaptados para o cinema, o teatro, o rádio, a televisão e até as histórias em quadrinhos, não só no Brasil, mas também em Portugal,  França, Argentina,  Suécia,Alemanha,   Polônia,  Thecoslováquia (atual República Tcheca), Itália e EUA. Seus últimos livros foram "Tocaia Grande" (1984), "O Sumiço da Santa" (1988) e "A Descoberta da América pelos Turcos" (1994). Além de romances, escreveu contos, poesias, biografias, peças de teatro, histórias infantis e até um guia de viagem. Jorge Amado morreu perto de completar 89 anos, em Salvador. A seu pedido, foi cremado, e as cinzas, colocadas ao pé de uma mangueira em sua casa.

O REGIONALISMO DE 30: A prosa de ficção dos anos 30 deu continuidade ao projeto dos primeiros modernistas, a chamada fase heróica, de 1922, de aprofundamento nos problemas brasileiros através de uma literatura regionalista, de caráter neorrealista, preocupada em apresentar os problemas e as desigualdades sociais do Brasil. Prevalece uma narrativa direta, sem as ousadias formais dos romances de Oswald de Andrade, como Memórias Sentimentais de João Miramar, ou do Macunaíma de Mário de Andrade.

LINGUAGEM: Os regionalistas de 30, como Jorge Amado, Graciliano Ramos e José Lins do Rego, enfatizam, assim como o modernismo inicial, o uso da linguagem coloquial, popular, na obra de arte literária. Mas há uma diferença fundamental. Enquanto os modernistas de 22 procuravam "escrever errado", reproduzindo as incorreções gramaticais da fala popular de maneira programática na linguagem literária, os regionalistas de 30, já livres das convenções da linguagem parnasiana acadêmica, escrevem com simplicidade. Jorge Amado pertence, como já vimos, à geração dos autores de 30, afeitos a uma linguagem coloquial, despojada e popular. Em Capitães da Areia, ele repete essa fórmula: abusa dos coloquialismos tanto nas falas de personagens quanto na fala do próprio narrador, seja em seus desvios sintáticos, seja na incorporação de palavras e expressões popularescas, regionais, diatópicas.

A OBRA: Capitães da Areia foi publicado em 1937, pertencendo ao primeiro momento do autor. O cenário escolhido é o urbano. Centrando a ação na vida dos menores abandonados da cidade de Salvador, o escritor aproveita para mostrar as brutais diferenças de classe, e má distribuição de renda e os efeitos da marginalidade nas crianças e adolescentes discriminados por um sistema social perverso. Capitães da areia narra o cotidiano de pobres crianças que vivem num velho trapiche abandonado. Liderados por Pedro Bala, menino corajoso, filho de um grevista morto, entregam-se a pequenos furtos para sobreviver. A narrativa, de cunho realista, descreve o cotidiano do grupo e seus expedientes para arranjar alimento e dinheiro. Intercalando a narrativa com reportagens sobre o grupo dos “Capitães da Areia”, o romance supervaloriza a humanidade das crianças e ironiza a ganância , o egoísmo das classes dominantes. Conduzindo a história em função dos destinos individuais de cada participante do bando, Jorge Amado acaba por ilustrar, de um lado, a marginalização definitiva de uns (o Sem-Pernas e o Volta Seca, por exemplo), e, de outro, a tomada de consciência dos mais lúcidos (Pedro Bala).

 O romance está dividido em três partes:

*1a parte - “Sob a lua, num velho trapiche abandonado”. É a apresentação do romance e dos personagens principais, formada de 11 capítulos.

Pedro Bala, o líder, de longos cabelos loiros e uma cicatriz no rosto, uma espécie de pai para os garotos, mesmo sendo tão jovem quanto os outros, que depois descobre ser filho de um líder sindical morto durante uma greve;
Volta Seca, afilhado de Lampião, que tem ódio das autoridades e o desejo de se tornar cangaceiro;
Professor, que lê e desenha vorazmente, sendo muito talentoso;
Gato, que com seu jeito malandro acaba conquistando uma prostituta, Dalva;
Sem- Pernas, o garoto coxo que serve de espião se fingindo de órfão desamparado (e numa das casas que vai é bem
       acolhido, mas trai a família ainda assim, mesmo sem querer fazê-lo de verdade);
João Grande, o "negro bom" como diz Pedro Bala, segundo em comando;
Querido- de- Deus, um capoeirista amigo do grupo, que dá algumas aulas de capoeira para Pedro Bala, João Grande e Gato;
Pirulito, que tem grande fervor religioso.

O apogeu da primeira parte é dividido em:

·  quando os meninos se envolvem com um carrossel mambembe que chegou na cidade, e exercendo sua meninez;

·  quando a varíola ataca a cidade, matando um deles, mesmo com Padre José Pedro tentando ajudá-los e se indo contra a lei por isso.

*2a parte - “Noite da grande paz, da grande paz de teus olhos”. Prioriza a personagem (Pedro Bala) e a sua descoberta do amor, formada de 08 capítulos.

Surge uma história de amor quando a menina Dora torna-se a primeira "Capitã da Areia", e mesmo que inicialmente os garotos tentem tomá-la a força, ela se torna como mãe e irmã para todos. O homossexualismo é comum no grupo, mesmo que em dado momento Pedro Bala tente impedi-lo de continuar, e todos eles costumam "derrubar negrinhas" na orla. Professor e Pedro bala se apaixonam por ela, e Dora se apaixona por Pedro Bala. Quando Pedro e ela são capturados (ela em pouco tempo passa a roubar como um dos meninos), eles são muito castigados, respectivamente no Reformatório e no Orfanato. Quando escapam, muito enfraquecidos, se amam pela primeira vez na praia e ela morre, marcando o começo do fim para os principais membros do grupo.

*3aparte- “Canção da Bahia, canção da liberdade”. Aborda o destino das personagens, formada de 08 capítulos.

Sem-Pernas se mata antes de ser capturado pela polícia que odeia;
Professor parte para o Rio de Janeiro para se tornar um pintor de sucesso, entristecido com a morte de Dora;
Gato se torna uma malandro de verdade, abandonando eventualmente sua amante Dalva, e passando por ilhéus;
Pirulito se torna frade;
Padre José Pedro finalmente consegue uma paróquia no interior, e vai para lá ajudar os desgarrados do rebanho do Sertão;
Volta Seca se torna um cangaceiro do grupo de Lampião e mata mais de 60 soldados antes de ser capturado e condenado;
João Grande torna-se marinheiro;
Querido-de-Deus continua sua vida de capoeirista e malandro; Pedro Bala, cada vez mais fascinado com as histórias de seu pai sindicalista, vai se envolvendo com os doqueiros e finalmente os Capitães de Areia ajudam numa greve. Pedro Bala abandona a liderança do grupo, mas antes os transforma numa espécie de grupo de choque. Assim Pedro Bala deixa de ser o líder dos Capitães de Areia e se torna um líder revolucionário comunista

NARRADOR
De terceira pessoa, apresentando onisciência em várias passagens. Toda a ação é narrada depois de ter acontecido. Isto explica alguns momentos em que o narrador antecipa o futuro dos personagens para o leitor.

TEMPO
É cronológico. Embora indeterminado, a narrativa se dá na primeira metade do século XX, com a presença de flash-back.

ESPAÇO
Espaço urbano da cidade da Bahia. Da primeira fase de Jorge Amado, este romance é um dos poucos da primeira fase que escolhe o meio urbano em detrimento do rural. Este espaço é utilizado para mostras as discrepâncias sociais de Salvador (por extensão, o Brasil urbano)

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