sábado, 3 de dezembro de 2011

PSS 3 - USINA



USINA
José Lins do Rego
“Com Usina termina a série de romances que chamei um tanto enfaticamente de "Ciclo da Cana-de-açúcar".

AUTOR: José Lins do Rego Cavalcanti nasceu no Engenho Corredor, no município de Pilar, no interior da Paraíba. Tanto seu pai como sua mãe pertenciam a tradicionais famílias oligárquicas do Nordeste açucareiro. Órfão de mãe e com o pai ausente, passou sua infância no engenho do avô. Fez seus primeiros estudos em Itabaiana e na cidade da Paraíba, hoje João Pessoa, e depois cursou a faculdade de Direito do Recife. Formou-se em 1923, mesmo ano em que apareceram os seus primeiros trabalhos literários. Em 1925 foi nomeado promotor público no interior de Minas Gerais. Contudo, um ano depois, abandonou a carreira no Judiciário e transferiu-se para Maceió, onde exerceu a função de fiscal de bancos. Em 1932, ainda morando em Maceió, José Lins do Rego publicou seu primeiro romance, Menino de Engenho. Estimulado pela boa acolhida da obra, lançou no ano seguinte Doidinho e, em 1934, Bangüê. Transferiu-se para o Rio de Janeiro em 1935, passando a atuar no jornalismo. Além de grande participação na vida literária, revelou-se um fanático futebolista, tanto é que exerceu vários e importantes cargos no Clube de Regatas Flamengo e na Confederação Brasileira de Desportos. Em pouco tempo, tornou-se uma notável personalidade da vida carioca.
Em 1936, após a publicação de Usina, decretou o fim do “ciclo da cana-de-açúcar”. Lançou então romances desvinculados da realidade açucareira como Pureza, Pedra Bonita e Riacho doce. No entanto, em 1943, voltou ao mundo decadente dos engenhos com Fogo morto, realizando aquela que seria a sua obra-prima ficcional. Em 1952 veio à luz seu derradeiro relato, Os cangaceiros. Faleceu em 1957, na cidade do Rio de Janeiro. OBRAS: Ciclo da cana-de-açúcar: Menino de engenho (1932); Doidinho (1933); Bangüê (1934); O moleque Ricardo (1935); Usina (1936); Fogo morto (1943). Ciclo do misticismo e do cangaço: Pedra Bonita (1938); Cangaceiros (1953).
Temas diversos: Pureza (1937);Riacho doce (1939); Eurídice (1947).

O REGIONALISMO DE 30: o regionalismo neo-realista surgido no Brasil durante a década de 30. A prosa de ficção dos anos 30 deu continuidade ao projeto dos primeiros modernistas, a chamada fase heróica, de 1922, de aprofundamento nos problemas brasileiros através de uma literatura regionalista, de caráter neo-realista, preocupada em apresentar os problemas e as desigualdades sociais do Brasil. Prevalece uma narrativa direta, sem as ousadias formais dos romances de Oswald de Andrade, como Memórias Sentimentais de João Miramar, ou do Macunaíma de Mário de Andrade.

LINGUAGEM: Os regionalistas de 30, como Jorge Amado, Graciliano Ramos e José Lins do Rego, enfatizam, assim como o modernismo inicial, o uso da linguagem coloquial, popular, na obra de arte literária. Mas há uma diferença fundamental. Enquanto os modernistas de 22 procuravam "escrever errado", reproduzindo as incorreções gramaticais da fala popular de maneira programática na linguagem literária, os regionalistas de 30, já livres das convenções da linguagem parnasiana acadêmica, escrevem com simplicidade, apenas ocasionalmente desrespeitando a norma culta da língua portuguesa. Em Usina José Lins usa muito o monólogo interior em terceira pessoa do singular.

O CICLO DA CANA-DE-AÇUCAR: Na obra de José Lins do Rego, a parte mais importante é a que corresponde ao chamado ciclo da cana-de-açúcar. Partindo de experiências autobiográficas – a vida no engenho do avô –, o escritor encontra na memória o fundamento de seus romances, nos quais fixa melancolicamente a decadência do engenho-de-açúcar, substituído como modo de produção pela usina. Participante ou pelo menos observador deste processo, José Lins do Rego esforça-se para registrar a verdadeira revolução social desencadeada pela nova tecnologia de produção açucareira que, em pouco tempo, levou um grande número de senhores de engenho a mais completa bancarrota econômica.

OBRA: Quinto romance de José Lins. “Com Usina termina a série de romances que chamei um tanto enfaticamente de "Ciclo da Cana-de-açúcar". A história desses livros é bem simples -- comecei querendo apenas escrever umas memórias que fossem as de todos os meninos criados nas casas-grandes dos engenhos nordestinos. Seria apenas um pedaço de vida o que eu queria contar. Sucede, porém, que um romancista é muitas vezes o instrumento apenas de forças que se acham escondidas no seu interior. Veio, após o Menino de Engenho, Doidinho, em seguida Bangüê. Carlos de Melo havia crescido, sofrido e fracassado. Mas, o mundo do Santa Rosa não era só Carlos de Melo. Ao lado dos meninos de engenho havia os que nem o nome de menino podiam usar, os chamados "moleques de bagaceira", os Ricardos. Ricardo foi viver por fora do Santa Rosa a sua história que é tão triste quanto a do seu companheiro Carlinhos. Foi ele do Recife a Fernando de Noronha. Muita gente achou-o parecido com Carlos de Melo. Pode ser que se pareçam. Viveram tão juntos um do outro, foram tão íntimos na infância, tão pegados (muitos Carlos beberam do mesmo leite materno dos Ricardos) que não seria de espantar que Ricardo e Carlinhos se assemelhassem. Pelo contrário. Depois do Moleque Ricardo veio Usina, a história do Santa Rosa arrancado de suas bases, espatifado, com máquinas de fábrica, com ferramentas enormes, com moendas gigantes devorando a cana madura que as suas terras fizeram acamar pelas várzeas. Carlos de Melo, Ricardo e o Santa Rosa se acabam, têm o mesmo destino, estão tão intimamente ligados que a vida de um tem muito da vida do outro. Uma grande melancolia os envolve de sombras. Carlinhos foge, Ricardo morre pelos seus e o Santa Rosa perde até o nome, se escraviza”. Usina é um romance de extrema decadência. No romance, a enchente do rio Paraíba é o símbolo da destruição final, é o apocalipse por tanto tempo esperando. Em Usina há um sentido social profundo e dramático, o rio cumpre sua vingança. A fuga do poderoso, assustado com as águas do rio. A enchente reles destrona os poderosos. O dr. Juca, o usineiro malogrado, é vítima de si mesmo e também de forças complexas de ordem social, de ordem econômica e até de obscuras forças de uma espécie de difuso fatalismo sertanejo. Usina é o fim do drama, aqui o romancista retoma a história do moleque Ricardo que fora desterrado para Fernando de Noronha. O dr, Juca, dono da Bom Jesus é a imagem dos velhos senhores, de uma ordem social que estava em crise. A safra do dr. Juca era de oitocentos contos de réis de lucro. E com isso ele comprava brilhantes que oferecia às suas mulheres, nos bordéis de Recife. A decadência está sempre ligada à perspectiva de corrupção moral, de diluição ética. Carlos de Melo, Ricardo e o Santa Rosa se acabam. Carlinhos foge, Ricardo morre pelos seus eo Santa Rosa perde até o nome, se escraviza. O livro é dedicado a Graciliano Ramos e a José Olympio, fraternais amigos de José Lins do Rego.

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