sexta-feira, 25 de novembro de 2011

UFRN - 2012 O SANTO E A PORCA


O Santo e a Porca - Ariano Suassuna

Gênero: Dramático (Comédia)
Estilo: Pós-Modernismo

AUTOR: Ariano Vilar Suassuna, advogado, professor, teatrólogo e romancista.  Nasceu na Paraíba em 16/06/1927. A infância passada no sertão familiarizou o futuro escritor e dramaturgo com os temas e as formas de expressão artística que viriam mais tarde constituir seu universo ficcional. Em 1590, fundou o Teatro Popular do Nordeste e, em 1970, lançou o Movimento Armorial, voltado para o descobrimento e interpretação das raízes históricas do Nordeste brasileiro, pregava o resgate das formas de expressão populares tradicionais: poesia, teatro, romance, pintura, gravura, escultura, cerâmica, música, tapeçaria e cinema.

OBRA: O Santo e a Porca que aborda o tema da avareza. É uma comédia em três atos. Aproxima-se da literatura de cordel e dos folguedos populares do Nordeste. Na trama, Suassuna narra a história de um velho avarento conhecido por Euricão Árabe, ele é devoto de Santo Antônio e esconde em sua casa uma porca cheia de dinheiro. Muito divertida, a história mistura o religioso e o profano e de Caroba, a empregada da casa, que através de sua esperteza, consegue articular uma grande confusão para que todos os enamorados se casem. Margarida, a filha de Euricão, quer se casar com Dodó, mas o pai dele, Eudoro Vicente, quer que ele termine seus estudos. Benona, tia de Margarida e irmã de Euricão, é apaixonada por Eudoro, já foi noiva dele, mas subitamente resolveu romper o noivado e ele se casou com outra. Pinhão, empregado de confiança de Eudoro Vicente, quer se casar com Caroba, mas não têm casa nem dinheiro para tanto; Euricão é viúvo e desde que a mulher morreu, após tê-lo abandonado, ficou amargurado e tornou-se um grande avarento, guardando todo seu dinheiro numa porquinha velha. O texto, que originalmente foi encomendado a Ariano Suassuna pela atriz Cacilda Becker, é uma comédia farsesca de 90 minutos.  Apesar de engraçado, o texto tem um fundo filosófico, o que não pode passar despercebido. O texto não se sustenta só com o riso, mas sobretudo pela visão crítica. Suassuna utiliza uma trama muito simples para tratar de algo mais complexo, como a relação do mundo material com o espiritual. O leitor deve perceber que o comportamento de Euricão lembra muito os conflitos barrocos de ordem religiosa. No entanto, esse conflito, inerente ao ser humano, chama atenção pelo fato de o personagem não desfrutar de sua riqueza.

ENREDO:

Numa linguagem alegre, bem humorada, Suassuna escreve a comédia sobre uma porca que esconde um tesouro, sob a guarda de Santo Antônio. Euricão, avarento, vive agarrado a sua porca de madeira que herdou de seu bisavô e onde guarda seu tesouro, cada centavo que ganhou durante toda sua vida foi para o "bucho" da porca. Margarida, filha de Euricão é apaixonada por Dodó, filho do ricaço Eudoro. Dodó deveria estar na cidade grande estudando a mando de seu pai, mas sua grande paixão o fez se disfarçar de corcunda, barbudo e boca torta para arranjar o emprego de guarda-costas de Margarida e poder namorá-la escondido. Pinão, empregado de Eudoro é noivo de Caroba, ama de Margarida, eles não conseguem casar porque Pinhão não tem dinheiro nem onde morar, por isso, faz um acordo com Dodó, vai ajudá-lo a ficar com Margarida em troca de uma pequena terrinha que Dodó ganhara de sua madrinha, e para garantir o negócio exige a assinatura de uma promissória. Margarida ficou hospedada na casa de Eudoro durante alguns dias, ele viúvo, se apaixonou por ela. Mandou Pinhão levar uma carta a Euricão avisando de sua chegada com a intenção de roubar-lhe seu maior tesouro. Euricão pensa que se trata da porca e esconde-a no cemitério de onde foi roubada por Pinhão. Benona, irmã de Euricão tinha sido noiva de Eudoro na juventude, depois de uma briga ele casou-se com outra, as não se esqueceram um do outro. Caroba quer proteger o amor de Margarida e Dodó, e também aproximar Eudoro de Benona, por isso inventa uma porção de mentiras que confundem os personagens. Eudoro pede a mão da moça (Margarida) e Euricão aceita pensando que é de Benona, Caroba diz a Benona que Eudoro quer noivar com ela, e arranja uma entrevista com Eudoro e sua noiva.  Essa trama acaba comprometendo Eudoro e Benona, e Dodó e Margarida. Pinhão devolve a porca porque descobre que não há tesouro. No final somente Euricão fica sem noiva, agarra-se à porca e descobre que aquele dinheiro já perdeu o valor, culpa Santo Antônio por não ter cuidado bem de seu tesouro, e continua sua ladainha:
_ Santo Antônio, Santo Antônio. Ai, meu Deus. Ai a crise, ai a carestia, tudo que se compra é pela hora da morte. Santo Antonio me protege, cuide da minha porquinha.


CARACTERÍSTICAS DA PEÇA:

Segundo o autor, O Santo e a Porca não é uma obra original sua, mas sim uma adaptação de Plauto, escritor latino do período antes de Cristo. Na peça Aululária, o protagonista é "Euclião", que encontra uma panela de ouro deixada por seu avô. Esse 'achado' aliado ao casamento de sua filha com um velho rico origina o mote central de um texto ágil cheio de encontros, desencontros e ambiguidades'. Suassuna adaptou o texto de Plauto, mas desenvolveu uma releitura dentro do contexto nordestino da literatura de cordel e criou uma trama mais complicada". O Santo e a Porca é um texto escrito para teatro bastante fácil, mas é preciso prestar atenção nas rubricas (indicações entre parênteses). Elas acabam fazendo o papel do narrador e dão o 'tom' da cena.
Os três atos da peça poderiam ser estruturados da seguinte maneira:

- primeiro ato: apresentação do problema e das personagens;
- segundo ato: complicação da situação, ponto de tensão;
- terceiro ato: desenlace.

TEMPO:

O tempo da ação é cronológico de aproximadamente 24 horas e está dividido em consonância com os atos da peça:

- Período da manhã: recebimento da carta espera por Eudoro, início da complicação (primeiro ato)
- Período da tarde: chegada de Eudoro, pedido de casamento, pedido de entrevista. (segundo ato)
- Período da noite: entrevistas, revelações, desfecho. (terceiro ato)

Estas marcações ficam muito claras nas falas das personagens. Concluí-se então que, na representação da peça, o fato da "entrevista" é o marcador temporal que a divide em dois grandes momentos:

Antes da entrevista: clima de tensão, espera, expectativa que culminará na reconciliação dos casais Caroba e Pinhão, Margarida e Dodó e Eudoro e Benona.
Depois da entrevista: reencontro de Dodó com seu pai Eudoro, os pedidos de casamento, a descoberta do segredo de Euricão (a porca) e a sua decepção.

Pode-se ver nessa peça um claro caráter moralizante, típico dos textos católicos. O maniqueísmo é marcado pela criação de extremos e representado quando Euricão sente-se obrigado a escolher entre o material (dinheiro) e o espiritual (Santo Antônio).

ESPAÇO:


O espaço é limitado e está restrito a casa d Euricão, sendo a sala destinada à representação da peça

A SIMBOLOGIA:

Na apresentação de sua peça O Santo e a Porca (1957), Ariano Suassuna a subintitula de uma "Imitação Nordestina de Plauto", referindo-se à Aululária, do autor latino. A palavra imitação, usada por Suassuna, nos remete ao conceito aristotélico de mímesis, cujo significado não representa apenas uma repetição à semelhança de algo, uma cópia, mas a representação de uma realidade, mais precisamente de uma revelação da essência dessa realidade. Essa essência está representada, nessas duas obras, pela avareza humana.
Veremos os símbolos pertinentes as duas obras:
* A panela, em Aululária
* A porca, na comédia de Suassuna.
Tomamos como símbolos, na Aululária O Vaso de Ouro, o Deus Lar, a lareira, o templo da Fidelidade, o bosque de Silvano e o objeto representativo da avareza, a panela (vaso). Em O Santo e a Porca, temos como correspondentes o Santo Antônio, a sala, o porão, o cemitério e o objeto da avareza, a porca de madeira. Nesse contexto de crenças e costumes, a avareza das duas personagens está representada em dois objetos: a panela (vaso) com o ouro de Euclião, escondida na lareira, e a "porca de madeira, velha e feia (...) com pacotes de dinheiro" (SUASSUNA, 1984, p.13), depositada na sala de Euricão sob a imagem de Santo Antônio. A lareira expressa o simbolismo da vida em comum, do centro da casa. Seu calor e sua luz aproximam as pessoas, é o centro da vida. Assim como a sala, tem o significado de "um santuário, no qual se pede a proteção de Deus, celebra-se o seu culto e guardam-se as imagens sagradas" (CHEVALIER, GHEERBRANT, 1994, p.536). A panela e a porca de madeira eram guardadas, respectivamente, nesses dois ambientes domésticos - lareira e sala -; portanto, equivalentes.

O santo e a porca é um texto leve, alegre, risível, cheio de cenas do mais puro pastelão, porém, essa graça não chega a ser besteirol, mesmo porque não é só o riso e o ridículo que é explorado por Ariano Suassuna, mas também a crítica aos costumes, contribuindo para o aguçamento do senso crítico. Sem pretensões reformistas radicais, até porque o texto é inspirado nos modelos medievais, O santo e a Porca critica o mundanismo, o apego às coisas materiais e a suplantação da fé pelo materialismo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário