sexta-feira, 25 de novembro de 2011

UEPB 2012 - MARIAS


MARIAS
Janaína Azevedo

Gênero: Narrativo (CONTOS)
Estilo: Contemporâneo

AUTOR: Janaína de Castro Azevedo da Silva nasceu em Areia, estado da Paraíba, em 1973. Janaína é professora e contista e pertence à geração de jovens escritores que surgiu na década de 1990. A jovem estreou em livro com os contos de Marias com o qual venceu o concurso Novos Autores Paraibanos, da Universidade Federal da Paraíba. Sua obra é uma ficção que vai do sagrado ao profano, com situações do cotidiano, Janaína cria um clima de mistério em sua obra. O tema da autora está centrado na problemática da mulher onde busca respostas para as questões de sempre: quem sou eu? Onde estão os limites entre a carne e o espírito? E outras interrogações femininas sobre a vida.
 OBRA: Com Marias, Janaína Azevedo não somente se sagra vencedora, na categoria Contos, do concurso Novos Autores Paraibanos, versão 1999, mas, antes de qualquer imposição de ordem extraliterária, parece desnudar um pacto estético e existencial com a carne da palavra. Pacto que parece sinalizar para algo de urgente e de definitivo. A obra é composta por 13 contos e microcontos, todos precedidos de epígrafes diversas. Linguagem simples, construída a partir de vocábulos em que o erotismo e a liturgia se entrelaçam numa surpreendente dessacralização.  Sua prosa poética possui a inquietação dos paradoxos, das metáforas e ambigüidades, causando perplexidade e estranhamento pelo desbunde do efeito produzido por suas construções inusitadas “Aí, cheguei-me para Ele e o beijei: Sua divina boca então se pôs rubra do meu prostituto batom...”
A atmosfera psicológica e existencial em que mergulham os seus personagens, sempre vivendo situações limites, conflitos emocionais, perdas irreparáveis, revisão de valores humanos, perplexidades e espantos, releva-se, e releva-se, em realce, a fluidez da prosa característica de uma escrita, que classificaria, ao mesmo tempo, de orgástica e celebratória, dionisíaca e epifânica, sagrada e profana, divina e diabólica, enfim, feminil e poética.
Na intitulação do conto a escritora já demonstra a forte presença de uma de suas Marias ― Adélia Prado ―, a qual brinca com algumas certezas religiosas, antropomorfiza Deus, liberta a mulher de seus estereótipos e preconceitos, e climatiza a eroticidade feminina como resultado de conflitos e paradoxos.

CARACTERÍSTICAS:

  • Sagrado X Profano
  • Mulheres: sonhadoras, sonâmbulas, mal-amadas, loucas, avançadas, tristes raras e livres
  • Intertextualidade
  • Carnavalização
  • Amor
  • Solidão
  • Morte

CONTOS SELECIONADOS: COMENTÁRIOS

1 – DÁ-ME TUA MÃO, Ó VIRGEM: Narração feita em primeira pessoa por uma personagem adolescente em conflito com a igreja, consigo e com mundo. Vivendo sensações surreais e pensamentos libidinosos em relação à Virgem. considera-se doente de heresia, porém se delicia com o pecado.

2 – TIA DONA:  Narração em terceira pessoa, aborda a temática da submissão feminina, da resignação, da neurose e do misticismo.

3 – AS MULHERES DA QUADRILHA: Um diálogo explícito com o poema Quadrilha de CAD, narrando através das personagens femininas suas aflições e seus destinos com riqueza de detalhes e reflexões.

4 – CÁRIE NA FLOR: conta as inquietações do narrador personagem quando da observação de uma menina florista, asmática e pobre, que insistentemente aparecia para vender suas flores sempre na mesma esquina e no mesmo horário, surpreendentemente as flores nunca eram vendidas. Aqui cabe observar o eu agônico do personagem sempre revoltado com as questões sociais que permeiam o texto. Com final aberto, inconclusivo, instiga e decepciona a expectativa do leitor.

5 – O VINHO TINTO DA MEMÓRIA:  reflexões de uma personagem, lembranças do que não viveu e do que viveu. Lembranças regadas a vinho.

6 – A PUTA DE DEUS: O conto brinca com o trecho bíblico de Lucas já que não é a mulher adúltera que traz o vaso com perfume, é Deus que, diante dos ímpios, com voz de “filete d’água fria”, indaga:
― “Já recobri a minha cama com acolchoados, com lençóis de linho fino do Egito. Já perfumei o meu leito com mirra, aloés e canela. Vem, saciemo-nos de amores até a manhã, alegremo-nos com amores.”
A personagem se deleita de prazer com Deus, mas, mesmo assim, deseja homens, por acreditar, talvez, que nenhum ser humano vive só “em espírito”. Ainda, se Deus é o criador de todos os homens, e a eles concedeu-lhes Sua semelhança, o “estar com homens” é, também, “estar com Deus”.
“― Meu Senhor, Tua puta sente falta dos regozijos dos homens, das santas farras, deles, do profano vinho”Todavia, a voz antagônica, com ironia, humor ou apenas sapiência divina, responde: ― “És apenas mulher louca, a Alvoroçadora: de nada sabes”. Mulher que se mulheriza em vão.”

7 – MARIAS: poema em prosa onde a mulher, Maria é vista sobre a ótica de José, como um ser superior, poderoso, independente; numa dicotomia que remete ao pecado santo: “Ela vem com seu santuário pornográfico, com seu prostíbulo de orações. Ela é uma igreja de pecados. Ela vem e enfim, passa por mim. E eu, pobre José, aceito-a doce a trair-me. A querer descobrir-lhe assim, numa única vida, sua alma. Ela vai. Eu sempre fico.”

8 – COMUNGANDO BANQUETE: o ato cerimonial de adorar se converte em acesa chama erótica, ao mesmo tempo em que o eros que rege o corpo também contempla a alma, e se espiritualiza, e se sacraliza...A sexualidade latente na rotina da mulher em sua cozinha: “Há tanto que se fazer na minha cozinha: descaroçar as azeitonas (da memória), esquentar o forno, esfriar o ventre no mármore frio da pia, lavar a louça suja (do passado), tirar as escamas pra que meu amor saboreie os peixes do meu sexo.”

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