sexta-feira, 25 de novembro de 2011

URCA 2012 - CLEPSIDRA



CLEPSIDRA
Camilo Pessanha


AUTOR: Camilo de Almeida Pessanha nasceu no dia 7 de setembro de 1867 na cidade de Coimbra em Portugal. Após formar-se em Direito foi para Macau, na China, onde exerceu a função de Professor. Acometido de Tuberculose e, segundo alguns estudiosos, viciado em ópio, o que contribuía para o agravamento da doença, retornou várias vezes para a Portugal para tratar da sua saúde.  Essas viagens de pouco valeram, uma vez que o poeta faleceu em 1º de março de 1926 em Macau. Camilo Pessanha que é, sem sombra de dúvidas, o maior e mais autêntico poeta Simbolista português foi fortemente influenciado pela poesia de do poeta francês Verlaine. Sua poesia, que influenciou vários poetas modernistas, como por exemplo Fernando Pessoa, mostra o mundo sob a ótica da ilusão, da dor e do pessimismo. O exílio do mundo e a desilusão em relação à Pátria também estão presentes em sua obra e passam a impressão de desintegração do seu ser.  A sua obra mais famosa é " Clepsidra", relógio de água, que contém poemas com musicalidade marcante e temas até certo ponto dramáticos.É considerado o mais simbolista dos poetas da época. Autor de apenas um livro: Clepsidra, influenciou a geração de Orpheu, que iniciou o Modernismo em Portugal. Autor considerado de difícil leitura, pois trabalha bem a linguagem. No seu livro predomina o estranhamento entre o eu e o corpo; o eu e a existência e o mundo. Em sua obra, Clepsidra, Camilo Pessanha distancia-se de uma situação concreta e pessoal, e sua poesia é pura abstração.

O SIMBOLISMO PORTUGUÊS: O Simbolismo é originário da França e se iniciou com a publicação de As Flores do Mal, de Baudelaire, em 1857. Nome inicial: Decadentismo.  Em Portugal, o Simbolismo tem início em 1890, com o livro de poemas de Eugênio de Castro, Oaristos, e com revistas acadêmicas, Os Insubmissos e Boêmia Nova, cujos colaboradores eram Eugênio de Castro e Antônio Nobre.
Resumo das características do Simbolismo:
·         Subjetividade
·         Religiosidade
·         busca da essência humana : a alma
·         ambigüidade, conotação, sentido figurado
·         poesia hermética, de difícil entendimento
·         busca da musicalidade - exploração da sonoridade das palavras
·         "É preciso sentir, e não raciocinar"
·         Sinestesias: cruzamento entre impressões sensoriais
·         Aliterações: repetição de fonemas
·         temática: sonho, mistério, morte
·         a poesia atinge o leitor por inteiro: todos os sentidos são aguçados
·         Maiúsculas alegorizantes
·         Mergulho no eu profundo: nefelibatas – habitantes das nuvens.

A OBRA:  Em Clepsidra, Camilo Pessanha distancia-se de uma situação concreta e pessoal, e sua poesia é pura abstração.
Clepsidra, título simbólico, que se refere a um instrumento de medição do tempo dado na Grécia aos oradores, instrumento do tipo da ampulheta, mas no qual corria água. Foneticamente o título lembra igualmente "hidra", o monstro devorador. O título aponta, assim, para a fragilidade da vida e da condição humana, para o fluir inexorável do tempo, que não deixa que nada se fixe na retina (poema Imagens que passais pela retina). Ora são estes os grandes temas da obra: a efemeridade de tudo quanto passa, a perda, a inutilidade do que se faz ou vive.
A realidade vista como ambígua; a importância da música. Por outro lado, trata-se de uma poesia intelectual que se debruça sobre a problemática do conhecimento - o homem só atinge os fenômenos, as aparências do real, e não a essência, o verdadeiro real; o homem só pode dispor de coisas mutáveis, indefinidas, inconsistentes, fugidias. O livro foi publicado em 1920 sob os cuidados editoriais de Ana de Castro Osório, por quem o poeta se enamorou.
A obra compõe-se de três partes:
I) Introdução, contendo a apresentação da história das edições da poesia de Camilo, à descrição do conjunto de testemunhos, à exposição dos critérios que nortearam a escolha de cada lição;
II) Conjunto dos textos poéticos;
III) Anotações e comentários informativos e a listagem das variantes. Ao final, segue a bibliografia, em apêndice, a lista dos autógrafos conhecidos e a relação dos poemas publicados em vida.

Características Principais:
·  O SUBJETIVISMO PROFUNDO:
1 - Exploração das camadas mais profundas do "eu”.
2 - Procura representar de seus estados de alma por
meio:
- da Cor (cromatismo)
- do som de determinados instrumentos musicais
- da paisagem

·  DOR  (MUNDO = ILUSÃO E DOR)
1 - Tendência ao decadentismo, a autodestruição, a uma percepção mórbida e cética.
2 - Imagens noturnas – gosto por imagens sombrias que são reveladas por meio da opção pelo negro, pela noite, a morte, a névoa.
3 - A vida é vista como uma ilusão, como passageira.
4 - "Torre de marfim" - estado de solidão e isolamento

·  USO DE SÍMBOLOS
1 - Relação entre a água e o tempo - Uso do elemento água, como símbolo da transitoriedade. O titulo de sua única obra é Clepsidra – “água furtada” um tipo de relógio que marcava o tempo com gotas de água.
2 - O rio deixa de ser um simples curso de água para se tornar uma metáfora do tempo.
3 - uso das maiúsculas alegorizantes (força emocional)

·  VAGUIDEZ, HERMETISMO, IMPRECISÃO
1 - Fragmentação – utilização de imagens desconexas, o mesmo que plurivisão e percepção da realidade multifacetada.
2 - Predomínio da Hermetismo – uso de recursos que dificultam a compreensão do significado, principalmente, a prolixidade e a combinação inusitada de palavras.
3 - sugestão sobre a descrição, registro impressionista.
4 - Sinestesias (combinação entre sons, cores e perfumes)

·  MUSICALIDADE
1 - A literatura deveria usar recursos que aproximassem a poesia da música.
2 - Uso da aliteração – semelhança de sons consonantais idênticos.
3 - Uso da assonância – semelhança de sons vocálicos idênticos
4 - Uso da reiteração – repetição de expressões.
5 - Uso do rondel (dois quartetos seguidos de um quinteto).


POEMAS SELECIONADOS:

Tatuagens complicadas do meu peito:
Troféus, emblemas, dois leões alados...
Mais, entre corações engrinaldados,
Um enorme, soberbo, amor-perfeito...

E o meu brasão... Tem de oiro, num quartel
Vermelho, um lis; tem no outro uma donzela,
Em campo azul, de prata o corpo, aquela
Que é no meu braço como que um broquel.

Timbre: rompante, a megalomania...
Divisa: um ai, - que insiste noite e dia
Lembrando ruínas, sepulturas rasas...

Entre castelos serpes batalhantes,
E águias de negro, desfraldando as asas,
Que realça de oiro um colar de besantes.

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