sexta-feira, 25 de novembro de 2011

UEPB 2012 - ANTOLOGIA POÉTICA CDA



ANTOLOGIA POÉTICA – Carlos Drummond de Andrade

“... obra que, de certa maneira, reflete um “tempo”, não só individual mas coletivo no país e no
mundo.”
Gênero: Lírico
Estilo: Poemas diversos - Modernismo

AUTOR: Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira, Minas Gerais, em 1902, descendente de uma antiga família de mineradores e fazendeiros. Em 1916, deixou sua cidade natal para estudar na capital do Estado. Formado em Farmácia, não chegou a exercer a profissão, dedicando-se ao jornalismo. Depois de fazer contato com poetas modernistas de São Paulo, fundou A Revista em 1925 – primeiro jornal modernista mineiro. Trabalhou na grande imprensa de Belo Horizonte, nos jornais Diário de Minas e Minas Gerais. Em 1934, mudou-se para o Rio de Janeiro, dedicando-se ao trabalho como funcionário público (chegou a ser chefe de gabinete do ministro da Educação Gustavo Capanema), ao jornalismo e à atividade literária. Exerceu funções burocráticas no serviço público até 1962. Durante todos esses anos, manteve intensa atividade jornalística, publicando crônicas em diversos jornais do país. Dedicou-se também à tradução de grandes obras da literatura mundial. Morreu no Rio de Janeiro, em 17 de agosto de 1987.  Publicou seu primeiro livro, Alguma Poesia, com 28 anos e, aos 60 anos, o poeta contava com dez livros de poesia: Alguma Poesia (1930), Brejo das Almas (1934), Sentimento do Mundo (1940), José (1942), A Rosa do Povo (1945), Novos Poemas (1948), Claro Enigma (1951), Fazendeiro do Ar (1954), A Vida Passada a Limpo (1959) e Lição de Coisas (1962). Esses livros foram coligidos, em 1969, no volume Reunião. Até 1980, Drummond publicou mais nove livros de poesia, entre os quais As Impurezas do Branco (1973) e A Paixão Medida (1980). Postumamente, foram publicados seus poemas eróticos, sob o título de O Amor Natural (1992). Drummond ainda publicou um livro de contos (Contos de Aprendiz, 1951) e várias coleções de crônicas. O escritor tornou-se bastante popular com suas crônicas, apreciadas principalmente pelo humor e pela sensível observação do cotidiano.

ENQUADRAMENTO ESTILÍSTICO: CDA é o poeta introdutor da segunda fase do Modernismo na poesia brasileira com a obra Alguma Poesia. O segunda momento recua nas proposta inovadoras e demolidoras da Primeira Fase, apresentando-se com mais moderação respeitando valores abandonados pela primeira fase, sobretudo no aproveitamento da tradição. A poesia apresenta novos motivadores. O ideário estético é substituído por um ideário ideológico, havendo uma poesia de denúncia social, de crítica do sistema sócio-político-econômico. O desejo de denunciar a realidade social e espiritual do país é marcante. A temática é ampliada,os temas são mais universalizantes. Há um equilíbrio no emprego da linguagem, sobretudo empregando-se termos prosaicos, cotidianos.

CARACTERÍSTICAS DA AOBRA DE CDA: Poeta livre de preconceitos literários anteriores, fala de cenas do cotidiano, de lembranças, de paisagens, fotografando a realidade, retratando um mundo distante, pequeno, simples, mas cheio de elementos pitorescos e sentimentais, assim sintetizam-se as principais características da poesia do poeta: desajustamento do indivíduo; monotonia da vida; nostalgia do passado; obstáculos da vida; preocupação sócio-política; angústia diante da vida; a própria poesia e falta de perspectiva do homem.  

OBRA: Organizada pelo próprio Carlos Drummond de Andrade e publicada em 1962, a Antologia Poética reúne textos que originalmente saíram em diversos livros sem obedecer a ordem cronológica de publicação dos mesmos. Livremente, o autor reuniu seus textos, sem levar em conta também critérios de qualidade, nem fases de sua produção poética. São 134 poemas que embora, CDA tenha organizado sua antologia fundada em critério subjetivo, pode-se perceber as três fases da obra do autor: a humorística, a social e a metafísica.
 A obra foi dividida pelo autor em nove partes, cada uma correspondente a um universo temático específico. São as seguintes:
1 – UM EU TODO RETORCIDO
2 – UMA PROVÍNCIA: ESTA
3 – A FAMÍLIA QUE ME DEI
4 – CANTAR DE AMIGOS
5 – NA PRAÇA DE CONVITES
6 – AMAR-AMARO
7 – POESIA CONTEMPLADA
8 – UMA, DUAS ARGOLINHAS
9 – TENTATIVA DE EXPLORAÇÃO E DE INTERPRETAÇÃO DO ESTAR-NO-MUNDO.
A seleção que Drummond empreendeu revela alto grau de consciência do escritor sobre seu fazer poético. Os temas que escolheu são basicamente os mesmos que a crítica, no futuro, sintetizaria como os fundamentais em sua vasta obra.

1) UM EU TODO RETORCIDO – INDIVÍDUO: Na primeira parte do livro estão poemas que tratam da questão do indivíduo, o eterno conflito entre o eu e o social. O eu-lírico fragmentado se apresenta como um deslocado no mundo, na figura do gauche (palavra francesa que significa, literalmente, esquerdo). A imagem retoma a tradição francesa do poeta inadaptado, que tem como referência central Charles Baudelaire. Isso ocorre, por exemplo, no próprio “Poema de Sete Faces”:

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

2) UMA PROVÍNCIA: nessa seção, há poemas sobre a terra natal do autor. Permeados de atmosfera nostálgica, questionam o espaço natal, colocando sempre em evidência que o espaço é também uma criação subjetiva.  Trata-se, portanto, de um prolongamento da questão do eu em relação ao mundo. Em “Confidência do Itabirano” diz:
 
Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação

3) A FAMÍLIA QUE ME DEI: Nesta terceira seção, CDA tematiza a família. Através do fio da memória, o eu-lírico puxa lembranças e recordações nostálgicas de um tempo perdido e recuperado apenas através da reminiscências da memória. Evoca inicialmente a família, em: “Retrato de Família”:

Este retrato de família
está um tanto empoeirado.
Já não se vê no rosto do pai
quanto dinheiro ele ganhou.
(...)
Esses estranhos assentados,
meus parentes? Não acredito.
São visitas se divertindo
numa sala que se abre pouco
(...)
Já não distingo os que se foram
dos que restaram. Percebo apenas
a estranha idéia de família

viajando através da carne.

4) CANTAR DE AMIGOS – REAIS OU INTELECTUAIS: Esse bloco de poemas trata da temática da amizade, mas de uma amizade estabelecida também no plano poético, como se os amigos fossem ligados ao eu-lírico, esse “Carlos” mitológico, que não deve ser confundido com o próprio poeta e que saúda Manuel Bandeira, nos belos  versos de “Ode no Cinqüentenário do Poeta Brasileiro”:
Esse incessante morrer
que nos teus versos encontro
é tua vida, poeta,
e por ele te comunicas
com o mundo em que te esvais.
(...)
Não é o canto da andorinha, debruçada nos telhados da Lapa,
anunciando que a tua vida passou à toa, à toa.
Não é o médico mandando exclusivamente tocar um tango
argentino,
diante da escavação no pulmão esquerdo e do pulmão direito
infiltrado.
Não são os carvoeirinhos raquíticos voltando encarapitados nos
burros velhos.
Não são os mortos do recife dormindo profundamente na noite.
(...)
Que o poeta nos encaminhe e nos proteja
e que o seu canto confidencial ressoe para consolo de muitos e
esperança de todos,
os delicados e os oprimidos, acima das profissões e dos vãos
disfarces do homem.
Que o poeta Manuel Bandeira escute este apelo de um homem
humilde.

5) NA PRAÇA DE CONVITES:Nessa seção, que o poeta chamou de “choque social”, aparece a fase engajada e participativa de CDA. São poemas retirados de diversos livros , mas que têm uma unidade de tema e de preocupação: colocar a poesia a serviço da denúncia social e da transformação da sociedade.Abrindo esta seção aparece o poema “Sentimento do Mundo”, no qual o poeta reflete sobre o mundo que o circunda e no qual vive, rejeitando a fuga, e o escapismo.

Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio de escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.
(...)
Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.

6) AMAR-AMARO: Aqui o poeta reuniu o que ele chamou de “Conhecimento amoroso”, ou seja, o sentimento amoroso. O título desta seção traz, não sem alguma intenção, as conotações que envolvem o amor: algo prazeiroso, mas também amargo. Amar é experimentar um sabor doce, mas também amarguras e sofrimentos. O poema “ O Amor bate na Aorta”

Cantiga de amor sem eira
nem beira,
vira o mundo de cabeça
para baixo,
suspende a saia das mulheres,
tira os óculos dos homens,
o amor, seja como for,
é o amor.
(...)
O amor bate na porta
o amor bate na aorta,
fui abrir e me constipei.
Cardíaco e melancólico,
o amor ronca na horta
entre pés de laranjeira
entre uvas meio verdes
e desejos já maduros.
(...)
 Amor é bicho instruído.
Olha: o amor pulou o muro
o amor subiu na árvore
em tempo de se estrepar.
Pronto, o amor se estrepou.

7) POESIA CONTEMPLADA: Poemas de cunho metalinguístico, ou seja, em que o poeta constrói uma reflexão sobre o próprio fazer poético. O senso estético do autor alcança grande dimensão de consciência, e a tensão entre o eu e o mundo se atenua, já que o eu-lírico suspende a existência de ambos para situar-se no território da linguagem (“penetra surdamente no reino das palavras”). O poeta parece compreender que tudo o que está no poema só existe como linguagem. Em “Procura da Poesia”, diz:

Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
8) UMA, DUAS ARGOLINHAS: CDA exercita seu veio lúdico, fazendo versos descompromissados, feitos, aparentemente, sem outra razão que o próprio prazer de fazer. O termo lúdico, vem de ludus, latim, significando jogo, brincadeira. O poeta brinca com as palavras, construindo jogos verbais aparentemente inocentes, mas nem por isso sem significação semântica, ideológica e sócio-política. O humor, a construção do poema-piada e a ironia são recursos típicos desta seção. Veja-se “Política Literária”:

O poeta municipal
discute com o poeta estadual
qual deles é capaz de bater o poeta federal.
Enquanto isso o poeta federal
tira ouro do nariz.

9) TENTATIVA DE EXPLORAÇÃO E DE INTERPRETAÇÃO DO ESTAR-NO-MUNDO: De caráter eminentemente existencialista, o mundo aparece como uma “máquina” sem sentido prático a priori. O eu busca uma compreensão impossível, que está para além das coisas. O ideal de uma arte pura tropeça nos impedimentos do mundo, na simbologia dos objetos: a “pedra no meio do caminho”, o “resíduo”. Após a destruição do mundo, busca-se o que resta, essas marcas que permanecem, que perduram na existência e resistem, de maneira precária, à ação do tempo. Esta atitude de descrença leva-o ao pessimismo, à angústia existencial, ao vazio e a dor. Seus poemas, então, tentam escavar um real estilhaçado, através de indagações, de questionamentos.  O poema que abre a seção é “No meio do caminho”

No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
Tinha uma pedra
No meio do caminho tinha uma pedra

Estrutura formal da composição de Carlos Drummond de Andrade é a seguinte:
1. Versilibrismo: o uso indiscriminado do verso livre.
2. Prosaísmo: adoção na poesia de processos adequados à prosa como o discurso direto, a ausência de rimas, a conversa com o leitor.
3. Linguagem dinâmica e irônica: versos pequenos e concisos no significado, semelhante ao poema pílula de Oswald de Andrade.
4. Cenas do cotidiano: a infância, a metrópole, Itabira e a família.
5. Recriação metonímica da realidade sentida: Drummond apreende filosoficamente o mundo a partir de assuntos banais.

Um comentário:

  1. BEM ELABORADOS OS RESUMOS PARABÉNS.
    POR FAVOR, FALE TAMBÉM SOBRE O LIVRO ANTOLOGIA DOS CONTOS. OBRIGADA CLÁUDIA

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