sexta-feira, 25 de novembro de 2011

UEPB 2012 - OS RATOS



OS RATOS – Dyonélio Machado


Gênero: Romance
Estilo: Modernismo 2 fase – Geração de 30

AUTOR: Entre os ficcionistas brasileiros da primeira metade do século XX, Dyonélio Machado sobressai pela agudeza concreta de seu intimismo, voltado menos para conflitos religiosos ou morais que para as dores miúdas e destruidoras do cotidiano.
Dyonélio Tubino Machado nasceu em Quaraí, RS em 21 de agosto de 1895. Estreou na literatura com os contos de “Um pobre homem” (1927) e formou-se em 1929 pela Faculdade de Medicina de Porto Alegre, especializando-se em psiquiatria. Foi redator e diretor interino do jornal Correio do Povo, da capital gaúcha. Elegeu-se deputado estadual, mas com o Estado Novo perdeu o mandato e ficou preso dois anos. O escritor chamou a atenção com seu primeiro romance, Os ratos (1935), em que recompõe com meticulosidade e humor cáustico a vida da classe média gaúcha de seu tempo, às voltas com o árduo cotidiano. O livro recebeu o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras. Embora reafirmassem o mesmo intimismo materialista, os romances seguintes, O louco do Cati (1942), Desolação (1944), Passos perdidos e Os deuses econômicos (1966), tiveram pouca receptividade. Dyonélio Machado morreu em Porto Alegre RS em 19 de junho de 1985.

OBRA - enredo: um dia na vida de Naziazeno Barbosa, funcionário pertencente ao estrato da classe média menos favorecida, tenta por todos os meios conseguir 53 mil reis para saldar uma dívida com o leiteiro, que lhe havia sentenciado pela manhã – lhe dou mais um dia. Essa frase fica ecoando na cabeça do protagonista, atormentando-o. Caso a dívida não fosse paga, o fornecimento do leite seria suspenso e o filho, que tinha problemas de saúde, não podia passar sem o leite. A cena de humilhação ocorre logo pela manhã. Depois de ter visto sua condição de mau pagador espalhada pela vizinhança, Naziazeno sai em busca do dinheiro para resgatar a dívida. Do escritório para a rua, passa o dia inteiro atrás de alguém que lhe pudesse emprestar o dinheiro. De início, pensa em pedir um empréstimo ao chefe. Conversa com seu amigo Alcides, que diz que o poderia valer, se ele recebesse uma dívida de 100.000 réis do Andrade, para quem intermediara um negócio. Naziazeno é ludibriado, pois o credor de Alcides diz que quem devia ao amigo de Naziazeno era outra pessoa. Sem dinheiro para almoçar, acaba procurando um conhecido para um pequeno empréstimo. Encontra, por acaso, o Costa Miranda que lhe empresta 5.000 réis. Ao invés d almoçar, Naziazeno aposta o dinheiro. E perde. Naziazeno vai até um atacadista, pede um empréstimo, sem êxito. De volta a um café, encontra o Alcides. Relata os ocorridos. O Duque está lá, conversando com um senhor de idade. Sugere a Naziazeno um empréstimo com o Rocco. São 18:20. Não consegue. Novo agiota. Nova negativa. Pensam, então, em abordar o Mondina [pseudo-advogado, velhusco]. Resgatam o anel do avô de Alcides que estava penhorado por um valor baixo [ajuda de Mondina]. O anel é penhorado por 300.000 réis. Sessenta mil são emprestados a Naziazeno, que, finalmente, volta para casa. Antes, porém, resgata os sapatos da mulher q estavam sendo consertados, compra queijo, manteiga e brinquedos para seu filho. Comem e vão dormir. Naziazeno rememora as situações vividas durante o dia. Não consegue dormir. Vai com a mulher à cozinha e deixa o dinheiro do leiteiro junto da vasilha onde a bebida seria despejada. Tenta dormir, mas fica sobressaltado com chiados que vêm da cozinha. Teme que os ratos roam o dinheiro. Insone, rememora os eventos que o levaram ao valor para pagar o leiteiro. Novo chiado dos ratos. Sobressalto. Ao final da madrugada, Naziazeno ouve o barulho do leite enchendo a vasilha e os passos do leiteiro se distanciando. Enfim, dorme.

OBRA - análise: Publicado em 1935, Os Ratos, tornou-se uma das obras mais influentes da 2ª geração do Modernismo.
Sua narrativa é apresentada numa linguagem simples, direta, rápida A preocupação com a boa linguagem não afasta o escritor da realidade urbana. Assim, os diálogos entre as personagens retratam a língua coloquial. Cada um dos 28 capítulos tem sua própria célula de suspense, que será resolvida no máximo no seguinte, em que obrigatoriamente surgirá outra. Há na obra uma cruel crítica à maneira como o dinheiro acabou se tornando a mola propulsora das relações sociais. Em suma, todos esses aspectos fazem de Os Ratos uma das obras mais nobres de nossa literatura.

O Título Os Ratos é uma referência ao drama psicológico de Naziazeno Barbosa, protagonista da história, depois de ter conseguido o dinheiro para saldar a dívida com o leiteiro. Naziazeno, meio dormindo, tem o seguinte pesadelo: os ratos estão roendo o dinheiro que ele deixara à disposição do leiteiro sobre a mesa da cozinha. Os ratos, ganhando a possibilidade de roerem dinheiro, simbolizam o consumismo da cidade grande, o câncer que aniquila os sonhos dos proletários, a desvalorização da solidariedade em função de padrões materiais que elevam o dinheiro à condição meta principal a ser alcançada.

O Drama: O drama principal do romance não se concentra no leiteiro, nem nos ratos ou no dinheiro: concentra-se na dificuldade para conseguir a quantia desejada, respeitando-se o limite de tempo e espaço.

O Estilo: Os Ratos se enquadram, dentro do movimento modernista brasileiro, no chamado Romance de 30: denominação dada a um conjunto de obras de ficção produzidas no Brasil a partir de 1928, ano de publicação de A Bagaceira, de José Américo de Almeida.
A obra é um romance social por excelência. O drama urbano da classe média baixa encontra protótipo perfeito em Naziazeno Barbosa, o herói fragilizado pela preocupação de cumprir um papel social no caos urbano em que vive.

O Tempo: cronológico - Em Os Ratos, as ações dos personagens acontecem no tempo cronológico ou linear, marcado pela passagem das horas, durante um dia de peregrinação de Naziazeno. O passar das horas é uma preocupação cruciante para o herói que não pode voltar para casa sem o dinheiro do leiteiro. Psicológico - O tempo psicológico (interior, aquele que transcorre dentro dos personagens, marcado pela ação da memória, das reflexões) é valorizado principalmente nos últimos capítulos do livro.

O Cenário: O cenário de Os Ratos é Porto Alegre.

Foco narrativo:
A obra é narrada em 3ª pessoa por um narrador onisciente (totalmente fora a trama) e cujo modo de narrar é apreendido pelo uso de verbos em 3ª pessoa. Esse narrador manipula, organiza as falas, os pensamentos e atitudes das personagens. Além disso, ele antecipa tudo aquilo que vai acontecer e ainda dá impressões bastante detalhadas de tudo e de todos. Trata-se, assim, de um narrador presente e onisciente, que se revela bastante crítico e consciente da matéria narrada. Um ingrediente essencial à narrativa é a ironia (humor) e até a mordacidade, com as quais o narrador intensifica a sua sátira sócio-política.

Temática

*  Luta por dinheiro
* Angústia do ser humano à condição urbana
* Narrativa em círculo
* Lembrança do passado

VISÃO SATÍRICA: Através da sátira, da deformação, da caricatura, Dyonélio Machado, critica e ridiculariza certos valores sócioculturais. Assim, desnuda a hipocrisia das relações humanas, questionando criticamente instituições públicas e políticas.
·                     Há, na obra, uma cruel crítica à maneira como o dinheiro acabou se tornando a mola propulsora das relações
sociais, comandando a respeitabilidade, a ética, a dignidade e até injusta e facilmente, quando não arbitrária e despoticamente, degradando-as, detonando-as. Em suma, todos esses aspectos fazem de Os Ratos uma das obras mais nobres de nossa literatura.
. O autor satiriza, através da figura de Naziazeno, o consumismo exagerado, o gosto pelo supérfluo.
. Dyonélio Machado explorou efeitos cômicos, ridículos e patéticos, a partir das atitudes insensatas e desesperadas de Naziazeno em busca do dinheiro para pagar ao leiteiro.
1 – A ida de Naziazeno à casa de um desconhecido buscar um dinheiro de uma transação da qual Naziazeno não
havia participado;
2 – A decisão de procurar o Sr. Rees, sem ao menos conhecê-lo;
3 – A vigília constante diante da porta de Otávio Conti, tentando provocar um encontro casual;
4 - O desejo de querer mais e mais, que levou Naziazeno a perder cento e sessenta e cinco contos de réis na roleta;
5 – Os gastos com manteiga e queijo importado, após conseguir dinheiro com Duque.

Personagens: Naziazeno é um herói impotente diante de uma situação aparentemente simples: conseguir dinheiro para garantir o bem-estar da família (principalmente do filho pequeno). É o homem comum rebaixado à condição de miserável, exposto à humilhação e ao anonimato que caracterizam o viver das aglomerações urbanas.
Naziazeno Barbosa - Modesto funcionário público, Naziazeno é o herói da história. Fragilizado pela condição de penúria material, atormentado pela necessidade de saldar uma dívida com o leiteiro.
Adelaide - Dona de casa, esposa de Naziazeno. Convive, diariamente, com as dificuldades de um orçamento familiar minguado, insuficiente para o sustento digno da família.
Mainho - Filho de Naziazeno e Adelaide.
Dr. Romeiro - Diretor da repartição pública onde Naziazeno trabalha. Há suspeitas de corrupção sobre ele. Certa vez, emprestou dinheiro a Naziazeno.
Otávio Conti - Advogado.
Dr. Mondina - Falso advogado; bajulado por conta do dinheiro de que dispõe. Foi quem desembolsou o dinheiro para o grupo (Naziazeno, Alcides e Duque), permitindo ao herói voltar para casa com a quantia devida ao leiteiro.
Rocco - Agiota para quem Alcides já deve uma grana. Nega-se a fazer novo empréstimo.
Fernandes - Agiota que se nega a emprestar dinheiro (cem mil réis) a Duque.
Assunção - Agiota da Rua Nova. Nega-se a emprestar dinheiro.
Alcides - Amigo de Naziazeno, solidário com ele na pobreza e nas dificuldades, fazendo tudo para ajudá-lo.
Duque - Amigo de Naziazeno e de Alcides. Inspira confiança porque tem sempre uma solução para os problemas que envolvem dinheiro.
Fraga - Vizinho de Naziazeno. Parece ter uma vida bem arrumada, não precisando passar pelos vexames financeiros por que passa o protagonista.
Costa Miranda - Amigo de Naziazeno; emprestou-lhe, na rua, cinco mil réis para o almoço.
Martinez - Dono da loja de penhores onde o anel de Alcides estava guardado. Mostrou boa vontade e foi, à noite, abrir a loja para devolver a jóia.
Dupasquier - Dono de uma joalheria. Examina o anel de Alcides e oferece trezentos e cinqüenta mil réis. Quando descobre que a proposta é de penhor, desiste do negócio.

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