sexta-feira, 25 de novembro de 2011

UFRN - 2012 A ROSA DO POVO


A ROSA DO POVO – Carlos Drummond de Andrade

“... obra que, de certa maneira, reflete um “tempo”, não só individual mas coletivo no país e no
mundo.”
Gênero: Lírico
Estilo: Poemas

AUTOR: nasce em Itabira (MG), em 31 de outubro de 1902. Começa seus estudos no Grupo Escolar Dr. Carvalho Brito; e, mais tarde, como interno no Colégio Arnaldo em Belo Horizonte. Problemas de saúde fazem-no regressar para Itabira. Em 1918, é matriculado no Colégio Anchieta da Companhia de Jesus, em Nova Friburgo (RJ), de onde é expulso por causa de um incidente com um professor de Português. Em 1923, matricula-se na Faculdade de Odontologia e Farmácia de Belo Horizonte. Inicia contatos literários com Manuel Bandeira, Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral. Corresponde-se com Mário de Andrade, envolve-se na ebulição modernista da década de 20. Funda, em 1925, A Revista junto com outros companheiros. Saem apenas três números da revista. No mesmo ano, casa-se com Dolores Dutra de Morais e conclui o curso de Farmácia. Desinteressado pela profissão, torna-se professor de Português e Geografia no Ginásio Sul-Americano de Itabira. Volta a Belo Horizonte e torna-se redator-chefe do Diário de Minas. Perde o primeiro filho: Carlos Flávio. Em 1928, nasce Maria Julieta. No mesmo ano, a publicação de No meio do caminho na Revista de Antropofagia causa enorme polêmica e um verdadeiro escândalo. Inicia carreira de funcionário público em Minas Gerais. Transfere-se como jornalista para o Minas Gerais, e torna-se auxiliar de redator; logo depois, redator e cronista. Assina as crônicas sob o pseudônimo de Antônio Crispim. Em 1930, publica Alguma Poesia. Torna-se chefe de gabinete do amigo Gustavo Capanema, que, ao se tornar Ministro da Educação e Saúde Pública, leva o poeta para o Rio de Janeiro. No Rio, colabora com a Revista Acadêmica, Correio da Manhã, Folha Carioca, Revista Euclides, A Manhã, Leitura, Tribuna Popular, Políticas e Letras. Em 1940, volta às páginas do Minas Gerais. Deixa a chefia do gabinete de Capanema e passa a trabalhar na chefia da Seção de História da Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Em 1945, empenha-se na campanha pela anistia.
Aposentado desde 1962, dedica-se integralmente ao trabalho literário. Carlos Drummond de Andrade falece no dia 17 de agosto de 1987, no Rio de Janeiro, dias após o falecimento de sua única filha, Maria Julieta.

CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL

Os poemas de A rosa do povo foram escritos entre 1943 e 1945, quando os horrores da II Guerra Mundial angustiavam a humanidade e o exército nazista recuava, especialmente na extinta União Soviética. Simultaneamente, no Brasil, o Estado Novo – autoritário, policialesco, ainda que economicamente
modernizador e socialmente avançado (sob o comando de Getúlio Vargas) – perdia o apoio entre as classes médias e as elites intelectuais(1) que aspiravam a um regime democrático. Neste caldeirão de conflitos e circunstâncias dramáticas, o foco poético de CDA – até então centrado mais na subjetividade e no individualismo do eu lírico deslocou-se para uma ênfase no histórico-social .

OBRA:

* É a mais extensa de todas as obras de CDA, composta por 55 poemas.
* As atitudes mais constantes do livro são a revolta, a angústia, o medo, a solidariedade, o sofrimento, a esperança e a desesperança
* A rosa é o principal símbolo polarizador, que representa, inicialmente, a flor do socialismo. Ela simboliza a participação social e política do poeta, a revolução com esperança de vitória. Mas também, num sentido mais amplo, a própria poesia (a metalinguagem).

Os principais temas: Os poemas de A rosa do povo podem ser agrupados de acordo com os temas centrais que se apresentam em toda a obra de Drummond. Este agrupamento, entretanto, não exclui a possibilidade de um poema apresentar vários desses temas centrais ao mesmo tempo. De modo geral, poderíamos pensar nas seguintes divisões:
A própria poesia (“poesia contemplada”): são poemas metalingüísticos, ou seja, que falam da própria poesia, tais como “Consideração do poema”; “Procura da poesia” e “Carrego comigo”.
O choque social (“a praça de convites”): poemas participantes ou engajados, como “Morte do leiteiro”; “Carta a Stalingrado”; “Com o russo em Berlim”; “O medo”.
A família: poemas de recordação de parentes, como “Nos áureos tempos”; “Desfile”; “Retrato de família”, “Como um presente”, e “No país dos Andrades”.
O indivíduo (“um eu todo retorcido”): poemas centralizados no questionamento do próprio ser, como “A flor e a náusea”; “Rola mundo”; “Anoitecer” e “Os últimos dias”.
O conhecimento amoroso: poemas voltados ao lirismo amoroso, como “Caso do vestido” e “O mito”.
Cantar de amigos: poemas que homenageiam amigos ou ídolos, como “Mário de Andrade desce aos infernos” e “Canto ao homem do povo Charlie Chaplin”.
Tentativa de exploração e de interpretação do estar-no-mundo: fechamento do círculo da poesia drummondiana, esse tema retoma o primeiro, estabelecendo a presença do existencial e do metafísico: “Versos à boca da noite”, “Morte no avião” e “Os últimos dias”.

Estilo de época: A rosa do povo está inserida na segunda fase do Modernismo, ou seja, enquadra-se nas perspectivas da geração de 30. A obra, publicada em 1945, representa um marco divisório entre a segunda e a terceira fase moderna. Drummond demonstra nessa obra sua aversão e perplexidade diante da violência das guerras, do desamor entre os homens, de um mundo marcado pela destruição e fragmentação. Assim, Carlos
Drummond une sua inventividade agressiva de modernista ao tom de denúncia social para compor um belo e comovente livro.
São traços de modernidade em A rosa do povo:
1. O emprego de uma linguagem coloquial marcada pela simplicidade vocabular: “quede” ou “evém”.
2. O emprego de versos livres brancos.
3. A presença da temática social e da poesia engajada.
4. O uso de versos nominais (sem verbos).
5. O emprego de substantivos isentos de qualificativos.
6. O lirismo sem confidência personalíssima: Drummond emprega um processo de transferência do tom confessional para o leitor. Assim, ele sugere ao leitor que este pode se ver como um ser múltiplo e dividido.
7. O questionamento existencial: questionamento de si mesmo e do mundo diante da miséria coletiva e do absurdo das guerras e ditaduras que dividem homens e nações.
8. O questionamento metafísico: tomada de consciência e descoberta da morte e da velhice.
9. O psicologismo: associação simbólica com imagens vertidas do subconsciente, tal como a água (vida ou morte).
10. O emprego da metalinguagem: discurso poético voltado ao seu próprio fazer.
11. A ruptura com as formas tradicionais da poesia do passado, quebrando normas rítmicas, melódicas, sintáticas e rímicas.


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