sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Obras Urca 2012 JAIME BUNDA


Por que será que ele tem esse nome heim???? rssss


JAMES BUNDA - 2001
Pepetela
"E desde já previno, este não é um livro policial, embora trate de uns tantos filhos de puta”. (PEPETELA, 2005, p. 13).

Estilo: Pós-Modernismo
Gênero: Prosa (Romance Policial)


AUTOR: Arthur Carlos Maurício Pestana dos Santos (*1941), melhor conhecido por seu nome de guerra Pepetela (Pestana em umbundu), é um dos mais importantes autores de Angola dos nossos dias. Na atual literatura lusófona ele se destaca por ser um escritor popular e muito experiente que recebeu vários prêmios importantes (prêmio Camões 1997 entre outros). Sua obra é objeto de numerosos estudos acadêmicos e valorizada tanto pelos leitores como pelos críticos. A biografia do escritor está impregnada pela história do seu país, que sofreu uma longa guerra civil (1975-2002) logo depois da guerra de independência contra Portugal (1961-75). Durante seus estudos universitários em Lisboa Pepetela juntou-se ao Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA) e teve que sair de Portugal por motivos políticos. Exilou-se na Argélia onde concluiu a carreira de sociologia. Na década dos 70 lutou como guerrilheiro pela libertação de Angola. Depois da independência foi vice-ministro da educação e hoje é professor de sociologia na Universidade Agostinho Neto em Luanda. Sua obra compreende até a data atual treze romances, duas peças de teatro e um livro de contos. Com seus dois romances mais recentes, "Jaime Bunda, agente secreto" (2001) e "Jaime Bunda e a morte do americano" (2003), Pepetela deu um passo na direção do gênero policial pela primeira vez. Através do anti-herói Jaime Bunda (paródia de James Bond) o autor analisa a sociedade de Luanda aguçadamente e sobretudo com muito humor.

ANÁLISE DA OBRA

Ao publicar Jaime Bunda, agente secreto, em 2001, Pepetela inaugurou o romance “policial” na literatura angolana, ainda que o tenha feito pela paródia a esse gênero literário. Na obra em questão, a trama ficcional se constrói em torno do detetive Jaime Bunda, um negro lerdo e de abundantes carnes que lhe valeram, somadas ao seu desempenho medíocre em jogos de vôlei da infância (p. 13), o singular apelido. O
personagem, no entanto, leitor ávido de novelas policiais, incorpora-o pacificamente como sobrenome por acreditar-se, assim, mais próxima de James Bond, o agente secreto britânico.

Foco Narrativo: O romance se apresenta dividido em quatro «livros» acrescidos do «prólogo» e do «epílogo». O autor ficcional se incumbe do «prólogo», mas, não satisfeito, interfere nada menos que quatorze vezes no «livro do primeiro narrador» e, em seguida, demite-o sem piedade, irrevogavelmente (p. 131). Contrata, então, Malika, uma das personagens, para tecer o «livro do segundo narrador». Escrito este, o autor ficcional dá por concluída a participação da moça e recontrata o primeiro narrador, proporcionando-lhe, assim, uma segunda oportunidade na vida (p. 167), mas o despede novamente logo depois de concluída a tarefa. Tem voz, então, outro narrador, que tece o «quarto livro» em terceira pessoa e, por fim, o autor ficcional dispensa narradores e pega de novo na palavra (p. 311), escrevendo o «epílogo». Foco narrativo oscila entre o heterodiegético e o autodiegético.

Tempo: cronológico, relatam fatos ocorridos simultaneamente à enunciação. As vozes narrativas informam ironicamente ao leitor, por exemplo, que o assassinato da adolescente ocorreu no feriado do dia 11 de Novembro (2001, p. 307), data em que é celebrada a independência de Angola.

Espaço: Angola - Luanda

Personagens: O protagonista de veicula o imaginário exatamente oposto ao que contemplaria o “desaparecimento da moral individual burguesa”. Anti-herói por convicção, Jaime é um estagiário tido como inútil, reconhecido por sua “bunda portentosa”, que lhe atrasa os movimentos e atrai a curiosidade alheia. É leitor voraz e admirador dos best-sellers policiais norte-americanos. A narradora Malika,é através dela que ficamos sabendo quase tudo sobre o mundo dos negócios ilícitos, sobre os esquemas do mundo informal que alimentam Said e os poderosos de Luanda. Senhor T. um homem tenebroso, poderoso,que o próprio autor recusou identificar por covardia. “É tão poderoso, tão poderoso, que nem o nome dele ouso mandar escrever. Ficará pela minha covardia apenas como senhor T...” (63). Gégé: “um jornalista para pôr nos olhos e ouvidos do mundo tudo aquilo que a população sempre marginalizada sente e quer” (312)

Enredo: Diante de um crime a ser desvendado, ou melhor, encoberto, Jaime Bunda é chamado a ter sua primeira atuação como detetive do chefe Bunker, homem misterioso que ninguém conhece, mas a que todos temem. O Bunda deve descobrir quem é o assassino de uma menina de quatorze anos. Enquanto procura pistas, conhece outros crimes (lavagem de dinheiro, favorecimentos, vinganças pessoais), todos são, ao final, ignorados, a fim de que se mantenha o pacto das relações de poder e de corrupção, das quais o estagiário passa a fazer parte. Mais uma vez, o crime maior não é contra uma pessoa, mas contra a nação: o povo é a vítima das várias formas de opressão que as elites locais exercem junto a aqueles que elas cooptam dentre a população ávida por poder. Os homens incriminados não são dois inocentes, mas não são os verdadeiros assassinos; e o detetive que conduz as investigações é o criminoso, o Estado constituído. O jogo de peças trocadas denuncia, seguindo a tradição dos romances de Pepetela, a completa ausência de ética nas relações, determinadas por disputas por poder e dinheiro: Em uma trama contada por dois narradores que se alternam, um homem e uma mulher, e pela voz do autor interno, que intervém como crítico de seus alter-egos. O anti-herói, assimilado, defensor do ideário capitalista, de índole violenta, não “suja as mãos”, porque não gosta de bater nos outros, mas não está distante dos que gostam, porque tem prazer em ver os outros apanharem e não hesita em contratar um matador para o marido da sua amante. De ética tão volúvel quanto individualista, o narrador abandona o leitor à deriva, impedindo-lhe o conforto de identificar-se com quaisquer dos personagens.

Características:

- Ironia:

"É melhor pedir que roubar e é melhor roubar que ser roubado, não acha, chefe?” (20).

- Digressão e Metalinguagem:

“Mas os leitores sabem do que se trata. Ou estão a ler isto tão distraídos que nem repararam numa recomendação do feiticeiro a T, usar sempre uma peça de roupa branca quando estivesse fora de casa.”

“Que raio de narrador petulante fui arranjar? Começo a estar arrependido, mas sou demasiado preguiçoso para o demitir a meio do jogo e ter que inventar outro.”

- Personagens tipos: Sr. T, o chefe, catorzinha, o kimbanda, o filho do ministro, etc...

- Linguagem: coloquial, presença de dialetos, polifonia.

- Intertextualidade:

“O criminoso voltava ao local do crime como Sherlock Holmes ensinou”

Temática:

- corrupção
- injustiça
- violência
- incompetência
- miséria
- pedofilia

2 comentários:

  1. Ótimo trabalho, parabéns e obrigado.

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  2. Tia Ril, li o livro e não tenho mais o que acrescentar!
    Ótimo seu resumo.
    Mas uma pergunta: Esse livro é em partes parecido com "Os Bruzundangas" de Lima Barreto não é? Visto que é uma crítica obscura ao país onde se reside?

    Beijos,
    Yan Ferreira de Alencar
    4º KYU - JKA-CE,CBKI
    17 Anos
    Juazeiro do Norte,Ceará

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