sexta-feira, 25 de novembro de 2011

UFRN - 2012 NEGRINHA



NEGRINHA – Monteiro Lobato

Gênero: Contos
Estilo: Pré-Modernismo

AUTOR: Natural de Taubaté (SP), nasceu em 18/04/1882. É uma das figuras excepcionais das letras brasileiras. Jornalista, contista, criador de deliciosas histórias para crianças, suscitador de problemas, ensaísta e homem de ação, encheu com seu nome um largo período da vida nacional. Com a publicação do livro de contos "Urupês", em julho de 1918, quando já contava com 36 anos de idade, chama para o seu talento de escritor a atenção de todo o país. Cita-o Ruy Barbosa, em discurso, encontrando no seu Jeca Tatu um símbolo da realidade rural brasileira. Lança-se à indústria editorial, publica livros e mais livros — "Onda Verde", "Idéias de Jeca Tatu", "Cidades Mortas", "Negrinha", "Fábulas", "O Choque", etc. Fracassa como editor, ao lançar a firma Monteiro Lobato & Cia., mas volta com a Companhia Editora Nacional, ao lado de Octales Marcondes, e triunfa. Tenta a exploração de petróleo, e acaba na cadeia, perseguido pela ditadura de Getúlio Vargas. Não só escreve, como traduz sem pausa, dezenas e dezenas de livros. Foi um grande homem, um grande brasileiro e um dos maiores escritores — em todo o mundo — de histórias para crianças. Basta dizer que, no período de 1925 a 1950 foram vendidos aproximadamente um milhão e quinhentos mil exemplares de seus livros. Era, de fato, um ser plural: escritor precursor do realismo fantástico, escritor de cartas, escritor de obras infantis, ensaísta, crítico de arte e literatura, pintor, jornalista, empresário, fazendeiro, advogado, sociólogo, tradutor, diplomata, etc. Faleceu na cidade de São Paulo (SP), no dia 04 de julho de 1948. Monteiro Lobato foi tão importante pelo que foi e o que fez quanto pelo que escreveu. O que foi e fez: Foi empresário, editor e estimulou definitivamente a leitura no Brasil; foi uma das mais importantes e críticas mentes do início do século XX; defendeu bravamente as pesquisas em busca de poços de petróleo no Brasil, sendo ele próprio responsável pela perfuração de um; atacou duramente a condição de atraso em que se encontrava o interior do estado de São Paulo, especialmente o Vale do Paraíba; foi iconoclasta e envolveu-se na célebre polêmica com a pintora Anita Malfatti, fato que desencadeou as ações dos modernistas para a realização da Semana de Arte Moderna; o que escreveu. Criou a figura imortal do Jeca Tatu, o caipira preguiçoso, que colhe todos os frutos da lei do menor esforço, que sintetiza o modo de ser do brasileiro rural. No universo infantil, Lobato criou o mágico mundo do Sítio do Pica-pau Amarelo, revitalizando e revolucionando a literatura infanto-juvenil no Brasil.

OBRA: publicado em 1920, segundo os especialistas em Monteiro Lobato, reúne o melhor em sua obra de literatura não-infantil. São dezessete contos, alguns são de sua fase atormentada, antes de viajar aos Estados Unidos. "Negrinha", "O Jardineiro Timóteo", "O colocador de pronomes" e a obra-prima, "A facada imortal", que foi escrita em seu regresso, são alguns deles. Muitos contos de Negrinha são experimentos com as linguagens dramática ou cinematográfica, que conferem a seu texto maior velocidade e promovem deslocamentos temporais e narrativos curiosos. Os personagens destes 17 contos são um retrato da população brasileira das décadas iniciais do século XX. Através deles, Lobato denuncia e desnuda os bastidores de uma sociedade patriarcal que deixa entrever os vestígios de uma persistente mentalidade escravocrata, mesmo décadas após a abolição.
CARACTERÍSTICAS: Em Negrinha, Lobato nos apresenta seu talento como contador de causos, histórias da gente da roça, dos mais poderosos e dos mais simples, criando obras-primas do conto brasileiro, em especial O Colocador de Pronomes, grandiosa crítica à retrógrada gramática do português. Ironia e linguagem bem elaborada.

RESUMO

1 – Negrinha - é narrado em terceira pessoa, e impregnado de uma carga emocional muito forte. O conto se mostra atual ao denunciar a violência contra a criança, notadamente a negra. Com ironia, lobato elabora o retrato negativo "da excelente senhora", a "ótima dona Inácia", apontando, através de chavões, a hipocrisia da sociedade: "a caridade é a mais belas das virtudes cristãs..."; "quem dá aos pobres empresta a Deus".
- O tema da caridade azeda e má, que cria infortúnio para os dela protegidos, é um dos temas recorrentes de Monteiro Lobato.
- O segundo aspecto que poderia ser observado é o fenômeno da epifania, a revelação que, inesperadamente, atinge os seres, mostrando-lhes o mundo e seu esplendor. A partir daí, tais criaturas sucumbem, tal qual Negrinha o fez. Ter estado anos a fio a desconhecer o riso e a graça da existência, sentada ao pé da patroa má, das criaturas perversas, nos cantos da cozinha ou da sala, deram à Negrinha a condição de bicho-gente que suportava beliscões e palavrórios, mas a partir do instante em que a boneca aparece, sua vida muda. É a epifania que se realiza, mostrando-lhe o mundo do riso e das brincadeiras infantis das quais Negrinha poderia fazer parte, se não houvesse a perversidade das criaturas. É aí que adoece e morre, preferindo ausentar-se do mundo a continuar seus dias sem esperança.
2 - As fitas da vida - Um velho, ex-soldado da Guerra do Paraguai, sozinho e cego, acaba por engano sendo levado ao prédio da imigração em São Paulo. Velho e cego, ele declara que gostaria de reencontrar seu antigo capitão, ao qual serviu durante a guerra. Ele acredita que o bom homem seria capaz de cura-lo até mesmo da cegueira. Coincidentemente, o seu antigo capitão, objeto de sua grande estima, fora promovido a chefe do departamento de imigração, pois era médico. Ao encontrar o antigo soldado, o médico-capitão o encaminhou para uma cirurgia de catarata, devolvendo-lhe de fato a visão.
3 – O drama da geada - Um rico fazendeiro do café enlouquece, depois de ver todo seu cafezal queimado pela geada. Durante a noite ele desaparece e, depois de muito procura-lo, seus parentes o encontram pintando de verde as folhas amareladas pela geada.
4 - O bugio moqueado - O narrador nos fala de sua experiência assustadora depois de ter visitado um bruto fazendeiro no Mato Grosso. Ele jantou com o homem e viu que uma estranha carne fora servida à esposa do fazendeiro. Ela comeu a contra-gosto o esquisito prato. Mais tarde, conversando com um amigo negro, descobrira que esse tal fazendeiro teria assassinado e moqueado (preparado a carne) um negro de sua fazenda por suspeitar que ele tivesse tido um caso com a sua esposa, o que se supunha pura maledicência.
5 – O jardineiro Timóteo - apesar de "escorregões" em estereótipos racistas, é um relato sensível e triste sobre a violência contra os negros no Brasil, podendo ser lido ainda como um lamento sobre certo lado destruidor da humanidade. Lobato parece questionar a modernização a qualquer preço, aquela que destrói sem critérios, sem pesar os sentimentos de quem participou da construção no momento anterior
6 - O fisco - Um menino, filho de imigrantes italianos, tenta ajudar a família se tornando engraxate. Mas assim que se dirige
à praça, é abordado por um fiscal da prefeitura que exige dele a licença municipal. Sem o dinheiro para a licença, o menino é levado até sua casa, sua mãe tem de gastar as últimas economias do mês e o menino bem-intencionado acaba por levar uma surra do pai, enquanto o fiscal se dirige ao bar da esquina para tomar uma cerveja com o dinheiro que “arrecadara”.
7 - Os negros - O narrador e seu amigo Jonas param no meio de uma viagem a cavalo pelo interior, na casa de Adão, um negro ex-escravo, que lhes oferece pouso. Sem espaço em seu barraco, todos vão dormir na casa grande da fazenda, abandonada e amaldiçoada. Durante a noite, Jonas é possuído pelo espírito do jovem Fernão, um português pobre, funcionário da fazenda no tempo da escravidão, e que teve um namoro escondido com a filha do patrão, o temível Capitão Aleixo. Isabel, a filha do capitão, acabou mandada para a corte e enlouqueceu, longe de seu amado. A escrava Liduína, que ajudou o casal, foi morta a relho. O jovem Fernão foi emparedado vivo. Depois do transe, Jonas de nada se lembrava, de modo que ficou só na memória do narrador a história da tragédia dos jovens amantes.

8 – Barba azul - Um amigo do narrador conta-lhe a história de um tal Pânfilo Novais, um facínora que descobriu um terrível meio de enriquecer: casava-se com mulheres feias, magras e pequenas, inaptas para o parto;fazia-lhes seguro de vida e , assim que engravidavam, morriam no parto, deixando-o com o dinheiro do seguro.
9 – O colocador de pronomes - Monteiro Lobato ridiculariza a personagem central, Aldrovando, exatamente pelo uso de uma linguagem empolada e descabida, cheia de preciosismos e de palavras incompreensíveis para a maioria das pessoas.
10 – Uma história de mil anos - Vidinha é uma bela jovem, - um anjo de candura, vive com a família nos confins do interior, sem sonhos, ilusões ou paixões. Um dia, um forasteiro desperta em seu coração o amor, beija-lhe e desaparece. Na solidão, agora
percebida depois de conhecer o amor, Vidinha definha, entristece e acaba morrendo.”Não vive na terra o que não é da terra”.
11 – Os pequeninos -  Enquanto espera o navio que trará um amigo de Londres, o narrador ouve histórias dos marinheiros. Uma delas narra um episódio em que um gaviãozinho ataca uma ema, cravando-lhe sob as asas as suas garrinhas e bicando-lhe sem piedade a carne viva e macia. Sem defesa, a grande ema é vítima do gaviãozinho. A outra história é de um português, Manuel, que é acusado de roubar um saco de arroz e depois descobre que quem o roubou foram as formigas, tão pequeninas. Enfim o narrador recebe o amigo, tuberculoso, vítima do pequenino bacilo de Koch.
12 - A facada imortal - Trata-se de um célebre golpe que Indalício Ararigbóia deu em seu amigo Raul. Chamava-se na época FACADA o empréstimo que se fazia sem a intenção de pagar. O golpista era conhecido por faquista. Indalício consegue arrancar um empréstimo do pão-duro amigo Raul ao mexer com a vaidade do amigo. Após o golpe, Indalício sente-se vitorioso e Raul sente-se derrotado.
13 - A Policitemia de dona Lindoca - Desgostosa do descaso e das traições do marido, dona Lindoca queixa-se de um mal-estar, procura o doutor Lorena,um médico charlatão, e descobre-se vítima de uma policitemia. O médico recomenda-lhe descanso e carinho da parte do marido. A vida está uma maravilha, até que o médico é descoberto e foge da cidade. O marido volta ao descaso e dona Lindoca sente saudades da policitemia.
14 – Quero ajudar o Brasil - Um negro, funcionário da Sorocabana, procura pelos incorporadores da empresa que luta pela exploração do petróleo (seria de Lobato?) e deseja comprar 30 ações da empresa no total de 3 contos, toda a economia de uma vida inteira de trabalho duro. Ele declara que não se importa com os riscos que corre, pois tudo o que quer é ajudar o Brasil.”Abençoado negro!... Os teus três contos foram mágicos.... Trancaram com pregos a porta da deserção.”
15 – Sorte Grande - Maricota é filha de dona Teodora. Moram numa pequena cidade, Santa Rita, com mais seis irmãos. Vivem na pobreza e, para piorar, Maricota desenvolve uma doença rara que lhe faz crescer o nariz. Do tamanho de uma beterraba, o nariz agora é notório e vexatório. A família junta um dinheiro para uma consulta com um especialista de uma cidade grande, mas no caminho, num barco, Maricota conhece um jovem médico, Dr. Cadaval, que se interessa pelo seu caso e a convida para uma tratamento no Rio de Janeiro. Maricota aceita se mudar para o Rio desde que o dr. lhe consiga alguns favores, emprego para os irmãos e até casamento para as irmãs. Afinal ele, como pesquisador irá colher os louros da vitória pela descoberta do Rinofima, nome do tumor de Maricota. Ela acaba operada e seu nariz volta ao normal, a família se ajeita e o médico ganha fama. O que fora considerado uma vergonha, agora passou a ser chamado de sorte grande pelo povo de Santa Rita.
16  – Dona Expedita - Dona Expedita é uma senhora de 60 anos que ainda diz a todos que tem 36. Ela procura um emprego de criada para serviços leves, mas a situação está difícil. O narrador então nos conta dois episódios engraçados vividos por ela na sua busca por um emprego ideal. Um dia ela viu no jornal uma oferta de emprego leve de acompanhante para o qual se pagaria 400 mil réis por mês, mas ao chegar ao local descobriu que se tratava de um erro no anúncio, o salário seria de 40 mil réis. O segundo episódio foi quando uma imigrante alemã a procurou falando de um serviço excelente, de uma boa patroa e um bom salário. Dona Expedita achou que ela era a patroa interessada em contratá-la, mas descobriu desconsolada que a alemã também procurava por um emprego assim.

17 – Herdeiro de si mesmo - Lupércio Moura, aos 36 anos, começa a ser acompanhado por uma maré de boa sorte. Tudo conspira para seu enriquecimento. Por acaso, embriagado, acaba comprando o casco de um velho navio, uma sucata, por 45 contos de réis, tudo o que possuía. Um ano depois, o preço do ferro sobe em função da guerra e ele vende a sucata por mais de 400 contos. No fim da vida está rico, uma fortuna de 60 mil contos, sem ter um herdeiro. Então, procura o médium, dr. Dunga e pede-lhe que se informe com os espíritos sobre quem será sua mãe na sua próxima encarnação, para fazê-la depositária da fortuna dele no seu testamento, queria ser herdeiro de si mesmo.

TEMÁTICA:
·         Tragédia
·         Ódio
·         Sadismo
·         Sociedade escravocrata
·         Violência
·         Loucura
·         Metalinguagem
·         Folclore

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